9.11.25

"Casa de Dinamite" - Kathryn Bigelow (EUA, 2025)

Sinopse:
Olivia Walker (Rebecca Ferguson), uma agente que trabalha na Casa Branca, tem sua rotina de trabalho alterada quando aparece, na tela do sistema de radares, um aviso de que um míssil nuclear foi lançado e vai atingir a populosa cidade de Chicago em dezoito minutos. Começa então uma corrida da equipe de segurança para determinar os responsáveis e garantir um ataque eficaz e no mesmo nível.
Comentário: Kathryn Bigelow (1951) é uma cineasta norte-americana que se tornou a primeira mulher a ganhar um Oscar de Melhor Direção por "Guerra ao Terror". Ela foi casada com o diretor, produtor e roteirista canadense James Cameron de 1989 a 1991. Assisti dela os ótimos "Guerra ao Terror" (2008) e "A Hora Mais Escura" (2012) e o bom “Point Break - Caçadores de Emoção” (1991). Desta vez vou conferir "Casa de Dinamite" (2025).
Amanda Capuano da Revista Veja nos conta que "Em um dia de trabalho comum na Casa Branca, a agente Olivia Walker (Rebecca Ferguson) vê o pesadelo de toda a humanidade se materializar na tela do computador: com bipes nervosos e um grande triângulo vermelho em movimento, a máquina avisa, para desespero da equipe de segurança americana, que um míssil nuclear foi lançado e vai atingir a populosa cidade de Chicago em dezoito minutos. É esse o curto intervalo de tempo que os ansiosos agentes têm para agir - e no qual se passa o aflitivo 'Casa de Dinamite' (...).
Dirigido pela oscarizada Kathryn Bigelow, que levou duas estatuetas ao se embrenhar no universo militar em 'Guerra ao Terror' (2008), o longa leva para as telas um tema que já foi assunto cativo de Hollywood, mas que acabou escanteado nos últimos anos: a ameaça iminente de uma guerra nuclear, capaz de exterminar cidades inteiras em segundos - e de extinguir toda a vida na Terra. 'Sinto que normalizamos as armas nucleares, mas elas ainda estão ao nosso redor', contou Bigelow a VEJA, destacando que o longa se tornou ainda mais atual à medida que a produção avançava e as guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza ganhavam escala e rumos alarmantes.
A história da criação das primeiras bombas atômicas, lançadas pelos americanos nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki na Segunda Guerra, ganhou um retrato vigoroso em 'Oppenheimer', grande vencedor do Oscar no ano passado. Mas a relação do cinema com o tema da ameaça nuclear começou muito antes. De forma indireta, esse temor foi abordado em filmes sobre monstros produzidos por testes atômicos, como 'O Monstro do Mar' (1953) e 'Godzilla' (1954). Com a intensificação da Guerra Fria e o medo crescente de um conflito nuclear entre Estados Unidos e União Soviética, surgiram tramas como 'O Dia Seguinte', produção de 1983 que chocou ao reproduzir com realismo os efeitos de uma eventual guerra nuclear.
Com a distensão após a queda dos regimes comunistas, na virada dos anos 1990, porém, as ogivas atômicas deram lugar a outro fantasma nas telas: o terrorismo, que passou a assombrar os americanos a partir do 11 de Setembro. 'Desde o fim da Guerra Fria, a ameaça nuclear infelizmente desapareceu da consciência de muitas pessoas', diz Noah Oppenheim, roteirista de 'Casa de Dinamite'.
O motivo de o novo filme provocar uma renovada reflexão sobre o assunto não é otimista: atualmente, nove países possuem bombas atômicas, e o Relógio do Juízo Final - que marca quanto a humanidade está supostamente próxima da própria aniquilação - nunca esteve tão perto da meia-­noite. Pesou bastante nisso, sobretudo, a guerra entre Ucrânia e Rússia, que intensificou o medo de um embate nuclear - embora o lançamento de uma ogiva seja tratado hoje como uma ação praticamente suicida.
É justamente a possibilidade de um ato desmesurado que embala 'Casa de Dinamite' e torna o filme tão aterrorizante. 'Antes havia um mundo polarizado entre Estados Unidos e Rússia. Hoje, as coisas estão ficando exponencialmente mais complicadas', opina Oppenheim. Não à toa, os agentes do longa se veem em posição periclitante: eles não sabem nem quem lançou a ogiva contra os Estados Unidos, alternando palpites entre Rússia, China e Coreia do Norte. Sem certeza da autoria, qualquer decisão fica mais arriscada, pondo todos numa sinuca de bico entre deixar que uma cidade americana seja exterminada sem resposta ou revidar e transformar o conflito em algo ainda mais catastrófico.
O presidente americano no longa, Idris Elba conta que nunca havia parado para pensar que uma única pessoa tem o poder de iniciar uma guerra e destruir a humanidade. 'Falamos sobre guerra nuclear, mas acho que muita gente não entende realmente o que isso significa', diz o ator.
Bem construído e embasado em extensa pesquisa sobre a segurança americana, o longa mostra Kathryn Bigelow em plena posse de sua maior qualidade: a capacidade de nos fazer refletir sobre a insensatez da guerra e a difícil tarefa de remediar uma escalada quando ela já está posta e se revela imprevisível. Mais que nunca, o velho pesadelo nuclear está de volta".
O que disse a crítica 1: Isabel Wittmann do site Feito por Elas avaliou com 3 estrelas, ou seja, bom. Disse: "Apesar do discurso visual cafona e batido, a história que está sendo contada até que tem suas nuances e nesse caso creio que o mérito esteja, mesmo, no roteiro. O próprio título do filme se explica: estamos morando em um planeta cheio de governantes ególatras que controlam arsenais inimagináveis que podem explodir tudo com todo mundo dentro, e como ficamos nessa situação? O fato de segurar respostas sobre como quem soltou a bomba, se foi um treino, se foi intencional ou não e qual a resposta estadunidense sem dúvida complexifica o filme, tornando-o minimamente menos maniqueísta. Mas não esqueçamos a realidade que a ficção esconde: apenas uma nação disparou uma bomba nuclear na história. Isso filme nenhum consegue mudar. E 'Casa de Dinamite' se permite elaborar cenários interessantes mas, em sua própria ficção, acaba por perder o fôlego na execução".
O que disse a crítica 2: Victor Russo do site Filmes e Filmes avaliou com 4 estrelas, ou seja, ótimo. Escreveu: "O único pecado do longa está justamente naquilo que é uma de suas maiores virtudes. A fragmentação em diversos pontos de vista é interessante, permite que conheçamos um pouquinho dessas pessoas, sejam as que tomam decisões, sejam aquelas que estão relacionadas a essas de alguma forma. Isso faz com que o discurso conflituoso de Bigelow, tão nacionalista como crítico ao posicionamento bélico e a imposição de poder dos americanos e algumas outras potências, se torne um tanto mais intenso, visto que passamos a nos importar e viver junto com aquelas pessoas em posições de poder, ou também das que vão ser afetadas por aquela bomba e nem sabem, como a filha de um, o marido de outro e por aí vai, além, claro, dos que sabem, mas não têm voz para fazer nada. Só que esse pesar se dilui um pouco na última parte, quando o longa se torna um pouco mais literal em sua relação com a realidade, seguindo um personagem de forma mais íntima, ainda gerando ansiedade, mas não tendo a força dos outros dois capítulos pela repetição do que já sabemos e por uma conclusão que evidentemente era menos importante, sendo previsível qual seria a (boa) escolha de Bigelow para encerrar a obra".
O que eu achei: Apertei o play de "Casa de Dinamite" (2025) por conta da direção assinada por Kathryn Bigelow, cineasta que eu já conhecia pelo oscarizado "Guerra ao Terror" (2008) – sobre o esquadrão antibombas do exército americano - e pelo também ótimo "A Hora Mais Escura" (2012) – sobre a busca pelo líder da Al Qaeda, Osama Bin Laden. Neste a guerra também é tema, só que de forma diferente. A trama começa quando as equipes ligadas à segurança nacional dos EUA percebem que um míssil não identificado foi lançado em direção ao país. Cruzando o céu em alta velocidade, eles têm 18 minutos para decidir o que fazer: deixar esse míssil atingir alguma cidade matando milhares de pessoas ou responder à altura, sem saber quem lançou ou mesmo se o lançamento foi ou não proposital. Esses 18 minutos de tomada de decisão são repetidos diversas vezes ao longo da projeção, pois o que Bigelow e seu roteirista Noah Oppenheim fazem é mostrar os vários pontos de vista desse processo: desde os analistas da linha de frente, passando pelos estrategistas especializados e finalizando no presidente da república que, no fim das contas, é quem dará a palavra final. Tudo isso enquanto essas mesmas pessoas vivem suas próprias vidas, com seus próprios dilemas pessoais e familiares e suas próprias emoções. Sem subestimar o público, aqui não há heróis, histórias de redenção, catarses ou grandes desfechos. E isso pode significar uma grande qualidade, além do bom elenco e da trilha sonora incrível. Outro ponto positivo é que Bigelow se cercou de especialistas no assunto para desenvolver o enredo, então o que vemos é muito provavelmente o que de fato aconteceria nos EUA no caso de um ataque como esse. Por outro lado, rever esses 18 minutos várias vezes torna o filme relativamente monótono. Isso - somado aos kilos de siglas e termos técnicos bem específicos a que somos submetidos - fazem a experiência chegar quase a cansar. Entre qualidades e defeitos, temos ao fim um bom filme, que não chega a ser a última bolacha do pacote (dificilmente concorrerá ao Oscar de Melhor Filme), mas que trata de um assunto relevante – e que deveria ser mais discutido – que é a guerra nuclear. Considerando que vivemos hoje em um mundo onde há atualmente mais de 12 mil ogivas nucleares espalhadas por diversos países ficam as perguntas: estamos preparados para um ataque como esse? O que vai acontecer se alguma dessas ogivas for disparada? Será que os temas guerra nuclear e fim da humanidade já são assuntos normalizados? É um filme que, para o bem ou para o mal, te traz uma tomada de consciência, servindo como um alerta urgente sobre a vulnerabilidade global a ataques nucleares e sobre o despreparo humano para lidar com esse tipo de situação. Vale ver.