
Comentário: Luiza Vilela da Revista Exame nos diz: "Eis aqui um fato bastante óbvio: desde os anos 1950, a televisão moderna e o cinema trabalham com a cor como um de seus maiores trunfos. Talvez seja meio clichê dizer, mas a riqueza de detalhes e a própria sensação de ver as coisas como de fato elas se apresentam para nós, causa impacto - que transformou a finalidade do uso do preto e branco, antes a única alternativa, para algo intencional. Um bom exemplo é o vencedor do Oscar 'Oppenheimer', o indicado 'Maestro' e a mais recente estreia da Netflix, 'Ripley', criada por Steven Zaillian e protagonizada por Andrew Scott. A diferença da minissérie para os outros filmes, além do formato, é que (...) ele explora a total ausência de cores de propósito: são oito episódios todos em preto e branco, nos quais a maior virtude são justamente as belíssimas - e, ironicamente, tão coloridas - paisagens de Nápoles, Sicília, Veneza e Roma, na Itália, sob os olhos atentos de um serial killer chamado Tom Ripley.
A história é baseada no livro e filme 'O Talentoso Sr. Ripley', criado pela autora Patricia Highsmith, em 1955 (...). O enredo tem enfoque em Thomas Ripley, um discreto assassino em série e vigarista que é contratado por um homem rico, pai de um amigo de infância de Ripley, Richard Greenleaf. Tom viaja até a Itália para encontrá-lo, com planos bem diferentes dos que foi contratado para fazer.
Na nova minissérie da Netflix, é Andrew Scott o grande protagonista em cena, meticuloso e calculista como todo bom serial killer precisa ser. Fazer bons filmes ou séries de serial killers tem sido um trabalho árduo nos últimos anos para os estúdios, apesar do crescente interesse no tema por parte do público. Produções recentes não trabalharam tão bem as motivações para os crimes - que passaram a ser bem mais questionadas -, e nem sempre conseguem evitar o sensacionalismo e um enredo previsível. Mas, acima de tudo, há uma dificuldade nítida de transportar, no trabalho dos atores, a falta de empatia necessária para interpretar um psicopata. Precisa ser convincente, tanto em roteiro e direção, quanto em interpretação. E isso definitivamente não é um problema para Andrew Scott. (...)
[Do ponto de vista estético], a série se apoia - e muito - no contraste e no jogo de luz e sombra. Uma estratégia que beira à metalinguagem, posto que boa parte do enredo se mistura às obras do tão polêmico Caravaggio. As pinturas renascentistas do pintor, espalhadas por toda a Itália com a típica expressão barroca, vão conduzindo a história de uma maneira muito sutil. Uma pintura aparece no centro da cena logo no primeiro capítulo, a outra é a 'desculpa' ideal para mudar de cidade, a próxima é a solução para se livrar de um problema. Do primeiro encontro de Ripley com as obras de Caravaggio às últimas cenas em que ele quase as persegue nas cidades italianas, a história dos dois vai criando uma semelhança, até que pintura, pintor e admirador de tornem quase os mesmos.
A presença do estilo do pintor também está, de certa forma, na direção de fotografia da minissérie. É também por isso que é tão metalinguístico: quando se retira toda a cor de paisagens belíssimas como as praias de Nápoles, as igrejas e vielas de Roma, os canais de Veneza, cria-se um distanciamento daquilo que é tão bonito de se ver. O apoio da imagem vai, então, para o contraste, para a luz e a sombra daquilo que é fotografado. Somado à luz e ao contraste, a beleza arquitetônica da Itália também conversa com a história. Estatuetas e pinturas atentas são tão observadores das ações de Ripley como o público que assiste à minissérie e pairam ali, estáticas, como testemunhas impedidas de falar".
Vale saber que esse personagem chamado Tom Ripley criado pela escritora norte-americana Patricia Highsmith, protagonizou diversos livros e filmes. Na literatura, ele aparece em cinco romances da escritora:
- "O Talentoso Sr. Ripley" (1955) no qual esta série é baseada;
- "Ripley Subterrâneo" (1970);
- "O Jogo de Ripley" (1974);
- "O Menino que Seguiu Ripley" (1980) e
- "Ripley Submerso" (1991).
No cinema ele também já apareceu em diversas adaptações desses livros como:
- "O Sol por Testemunha" (1960) com direção de René Clément e Alain Delon no papel principal;
A história é baseada no livro e filme 'O Talentoso Sr. Ripley', criado pela autora Patricia Highsmith, em 1955 (...). O enredo tem enfoque em Thomas Ripley, um discreto assassino em série e vigarista que é contratado por um homem rico, pai de um amigo de infância de Ripley, Richard Greenleaf. Tom viaja até a Itália para encontrá-lo, com planos bem diferentes dos que foi contratado para fazer.
Na nova minissérie da Netflix, é Andrew Scott o grande protagonista em cena, meticuloso e calculista como todo bom serial killer precisa ser. Fazer bons filmes ou séries de serial killers tem sido um trabalho árduo nos últimos anos para os estúdios, apesar do crescente interesse no tema por parte do público. Produções recentes não trabalharam tão bem as motivações para os crimes - que passaram a ser bem mais questionadas -, e nem sempre conseguem evitar o sensacionalismo e um enredo previsível. Mas, acima de tudo, há uma dificuldade nítida de transportar, no trabalho dos atores, a falta de empatia necessária para interpretar um psicopata. Precisa ser convincente, tanto em roteiro e direção, quanto em interpretação. E isso definitivamente não é um problema para Andrew Scott. (...)
[Do ponto de vista estético], a série se apoia - e muito - no contraste e no jogo de luz e sombra. Uma estratégia que beira à metalinguagem, posto que boa parte do enredo se mistura às obras do tão polêmico Caravaggio. As pinturas renascentistas do pintor, espalhadas por toda a Itália com a típica expressão barroca, vão conduzindo a história de uma maneira muito sutil. Uma pintura aparece no centro da cena logo no primeiro capítulo, a outra é a 'desculpa' ideal para mudar de cidade, a próxima é a solução para se livrar de um problema. Do primeiro encontro de Ripley com as obras de Caravaggio às últimas cenas em que ele quase as persegue nas cidades italianas, a história dos dois vai criando uma semelhança, até que pintura, pintor e admirador de tornem quase os mesmos.
A presença do estilo do pintor também está, de certa forma, na direção de fotografia da minissérie. É também por isso que é tão metalinguístico: quando se retira toda a cor de paisagens belíssimas como as praias de Nápoles, as igrejas e vielas de Roma, os canais de Veneza, cria-se um distanciamento daquilo que é tão bonito de se ver. O apoio da imagem vai, então, para o contraste, para a luz e a sombra daquilo que é fotografado. Somado à luz e ao contraste, a beleza arquitetônica da Itália também conversa com a história. Estatuetas e pinturas atentas são tão observadores das ações de Ripley como o público que assiste à minissérie e pairam ali, estáticas, como testemunhas impedidas de falar".
Vale saber que esse personagem chamado Tom Ripley criado pela escritora norte-americana Patricia Highsmith, protagonizou diversos livros e filmes. Na literatura, ele aparece em cinco romances da escritora:
- "O Talentoso Sr. Ripley" (1955) no qual esta série é baseada;
- "Ripley Subterrâneo" (1970);
- "O Jogo de Ripley" (1974);
- "O Menino que Seguiu Ripley" (1980) e
- "Ripley Submerso" (1991).
No cinema ele também já apareceu em diversas adaptações desses livros como:
- "O Sol por Testemunha" (1960) com direção de René Clément e Alain Delon no papel principal;
- "O Amigo Americano" (1977) com direção de Wim Wenders e Dennis Hopper no papel principal;
- "O Talentoso Ripley" (1999) dirigido por Anthony Minghella e Matt Damon no papel principal;
- "O Retorno do Talentoso Ripley" (2002) com direção de Liliana Cavani e John Malkovich no papel principal e
- "Ripley No Limite" (2005) com direção de Roger Spottiswoode e Barry Pepper no papel principal.
O que eu achei: A minissérie “Ripley”, criada e dirigida por Steven Zaillian, é uma releitura elegante e sombria do universo concebido por Patricia Highsmith. O personagem Tom Ripley, já explorado em romances e adaptações anteriores, ganha aqui uma nova roupagem que dispensa qualquer conhecimento prévio da obra original. Mesmo quem nunca leu "O Talentoso Sr. Ripley" (1955) ou assistiu à suas versões cinematográficas pode mergulhar sem reservas nessa narrativa refinada e inquietante, embora os que já conhecem a história percam o efeito surpresa. Eu, que já havia assistido há anos atrás o longa "O Talentoso Ripley" (1999) dirigido por Anthony Minghella com o Matt Damon no papel principal, tive esse efeito surpresa razoavelmente diminuído, apesar de haver diferenças significativas entre as duas adaptações. Entretanto, o que realmente distingue esta versão de outras é sua estética impecável: o visual em preto e branco, a cargo do premiado diretor de fotografia Robert Elswit, transforma cada quadro em uma pintura. As locações italianas, entre paisagens deslumbrantes e cidades históricas, reforçam a atmosfera de luxo e decadência, criando um contraste fascinante entre beleza e crime. Inspirada pela vida e pela luz dramática de Caravaggio - o artista que matou Ranuccio Tomassoni em Roma em 1606 - a série assume uma dimensão visual quase pictórica, em que sombras e brilhos refletem a dualidade moral de seu protagonista. À medida que a trama avança, as escolhas de Ripley se tornam cada vez mais arriscadas, e o espectador, como que seduzido por sua frieza e charme, quase que chega a torcer por ele, mesmo ciente de sua amoralidade. São oito episódios enxutos com o ator Andrew Scott no papel principal, que sustenta o tom psicológico e sombrio da narrativa, finalizando como um estudo moral sobre a ambição, a beleza e o perigo de desejar demais. A cereja do bolo fica por conta da presença de John Malkovich no último episódio. Super recomendo.
- "O Retorno do Talentoso Ripley" (2002) com direção de Liliana Cavani e John Malkovich no papel principal e
- "Ripley No Limite" (2005) com direção de Roger Spottiswoode e Barry Pepper no papel principal.
O que eu achei: A minissérie “Ripley”, criada e dirigida por Steven Zaillian, é uma releitura elegante e sombria do universo concebido por Patricia Highsmith. O personagem Tom Ripley, já explorado em romances e adaptações anteriores, ganha aqui uma nova roupagem que dispensa qualquer conhecimento prévio da obra original. Mesmo quem nunca leu "O Talentoso Sr. Ripley" (1955) ou assistiu à suas versões cinematográficas pode mergulhar sem reservas nessa narrativa refinada e inquietante, embora os que já conhecem a história percam o efeito surpresa. Eu, que já havia assistido há anos atrás o longa "O Talentoso Ripley" (1999) dirigido por Anthony Minghella com o Matt Damon no papel principal, tive esse efeito surpresa razoavelmente diminuído, apesar de haver diferenças significativas entre as duas adaptações. Entretanto, o que realmente distingue esta versão de outras é sua estética impecável: o visual em preto e branco, a cargo do premiado diretor de fotografia Robert Elswit, transforma cada quadro em uma pintura. As locações italianas, entre paisagens deslumbrantes e cidades históricas, reforçam a atmosfera de luxo e decadência, criando um contraste fascinante entre beleza e crime. Inspirada pela vida e pela luz dramática de Caravaggio - o artista que matou Ranuccio Tomassoni em Roma em 1606 - a série assume uma dimensão visual quase pictórica, em que sombras e brilhos refletem a dualidade moral de seu protagonista. À medida que a trama avança, as escolhas de Ripley se tornam cada vez mais arriscadas, e o espectador, como que seduzido por sua frieza e charme, quase que chega a torcer por ele, mesmo ciente de sua amoralidade. São oito episódios enxutos com o ator Andrew Scott no papel principal, que sustenta o tom psicológico e sombrio da narrativa, finalizando como um estudo moral sobre a ambição, a beleza e o perigo de desejar demais. A cereja do bolo fica por conta da presença de John Malkovich no último episódio. Super recomendo.