20.10.25

“Quanto Mais Quente Melhor” - Billy Wilder (EUA, 1956)

Sinopse:
Chicago, 1929. Joe (Tony Curtis) e Jerry (Jack Lemmon) são músicos desempregados. Eles acidentalmente testemunham o Massacre do Dia de São Valentim, assistindo o criminoso Spats Colombo (George Raft) e seu cúmplice aniquilarem Toothpick Charlie (George E. Stone) e sua gangue. Forçados a deixar a cidade, a dupla pega o primeiro trabalho que pode arrumar: tocar na banda de garotas da Sweet Sue (Joan Shawlee). É quando eles conhecem Sugar Kane (Marilyn Monroe), a vocalista da banda.
Comentário: Trata-se do filme número 79 da lista de filmes essenciais elaborada pela Revista Bravo! em 2007. A matéria diz: “Apesar de ter se tornado célebre pelo humor e ironia de sua obra, a carreira de Billy Wilder pode ser dividida entre títulos sérios – ‘Pacto de Sangue’ (1944), ‘Farrapo Humano’ (1945), ‘Crepúsculo dos Deuses’ (1950) - e comédias escrachadas – ‘O Pecado Mora ao Lado’ (1955), ‘Se Meu Apartamento Falasse’ (1960), ‘Beija-me, Idiota’ (1964). O exemplo supremo do segundo grupo é ‘Quanto Mais Quente Melhor’, considerado pelo próprio cineasta sua maior obra-prima. É também, ao lado de ‘O Pecado Mora ao Lado’, o trabalho pelo qual Marilyn Monroe costuma ser mais lembrada, embora, durante as filmagens, ela estivesse vivendo sérios problemas pessoais que a levariam à morte poucos anos depois. Outro empecilho era sua enorme dificuldade em decorar diálogos. Foram necessários alguns malabarismos, como colocar frases em gavetas, para que ela se lembrasse das falas. Durante a Depressão, Joe (Tony Curtis) e Jerry (Jack Lemmon) são músicos de jazz (uma paixão de juventude de Wilder) que testemunham acidentalmente uma execução em massa cometida por gângsteres. Para fugir dos mafiosos que os juraram de morte, eles se empregam em uma banda feminina que fará uma série de shows em um hotel de Miami. Para isso, vestem-se de mulher e tornam-se Josephine (Curtis) e Daphne (Lemmon). Enquanto se desdobram para impedir que as garotas do grupo descubram a farsa, Joe/Josephine se apaixona por uma delas, a charmosa e beberrona Sugar Kane (Monroe). ‘Quanto Mais Quente Melhor’ impressiona pelos diálogos sardônicos, escritos por Wilder em parceria com I. A. L. Diamond, seu segundo grande parceiro de texto (o outro foi Charles Brackett). A antológica cena final, em que Daphne é pedida em casamento pelo ricaço e, depois de revelar que é um homem, ouve que ‘ninguém é perfeito’, foi escrita na noite anterior da gravação. Esta foi a primeira parceria entre o diretor e Jack Lemmon, que o cineasta viria a considerar o seu ator preferido e com quem trabalharia no ano seguinte em outro clássico, ‘Se Meu Apartamento Falasse’. O filme foi indicado a seis Oscar em 1960 e premiado com o de Melhor Figurino em Preto-e-Branco. Em 2000, foi eleito a melhor comédia americana de todos os tempos pelo American Film Institute”.
O que eu achei: Prosseguindo na minha meta de assistir aos 100 filmes essenciais da lista elaborada pela Revista Bravo! em 2007, desta vez vi “Quanto Mais Quente Melhor” (“Some Like It Hot”), de 1956, dirigido por Billy Wilder. O filme é uma daquelas comédias que justificam plenamente o status de clássico. Presente em praticamente todas as listas de melhores comédias de todos os tempos, o longa combina humor afiado, ritmo impecável e um trio de atuações inesquecíveis. Wilder, mestre em equilibrar ironia e leveza, cria aqui uma sátira que brinca tanto com os clichês do cinema de gângster quanto com as convenções de gênero, em plena era da Lei Seca americana. A trama se passa em Chicago, 1929. Joe (Tony Curtis) e Jerry (Jack Lemmon), dois músicos falidos, testemunham uma chacina promovida pela máfia. Para escapar dos criminosos, disfarçam-se de mulheres e se unem a uma banda feminina a caminho da Flórida. A partir daí, Wilder constrói uma sequência de situações cômicas que oscilam entre o pastelão e o humor sofisticado, sempre sustentadas pela química perfeita entre Curtis e Lemmon. E no centro de tudo, surge a inesquecível Sugar Kane, interpretada por Marilyn Monroe - vulnerável, sensual e absolutamente magnética. Sua presença é um dos grandes trunfos do filme, que, sem ela, certamente perderia parte de seu brilho. Além da direção precisa e do roteiro exemplar (assinado por Wilder e I.A.L. Diamond), vale destacar a fotografia precisa de Charles Lang, que confere à comédia um acabamento visual de alto nível. “Quanto Mais Quente Melhor” é, ao mesmo tempo, um filme leve e uma obra de engenharia cômica complexa: faz piada com a máfia, com a repressão moral e até com os papéis sociais de gênero, sem nunca soar datado. É cinema clássico em sua forma mais refinada, divertido, inteligente e exemplar. Um passatempo e tanto mesmo depois de quase setenta anos. Inspirou outro sucesso da Sessão da Tarde: "As Branquelas" (2004) do diretor Keenen Ivory Wayans, sobre dois agentes negros do FBI que se disfarçam de mulheres brancas para proteger duas herdeiras de um sequestro.