31.10.25

“O Método Kominsky” - Chuck Lorre (EUA, 2018-2021)

Sinopse:
Sandy Kominsky (Michael Douglas) é um ator que, por muitos anos, tentou alcançar a fama em Hollywood, mas teve apenas um breve momento de sucesso. Ele agora se dedica a treinar artistas iniciantes, desenvolvendo e aplicando uma metodologia própria. Para isso, a ex-estrela conta com o apoio de Norman Newlander (Alan Arkin), seu agente de longa data e melhor amigo.
Comentário: Trata-se de uma série americana com 22 episódios subdivididos em 3 temporadas. O criador é o escritor, diretor, produtor e compositor americano Chuck Lorre (1952) responsável por seriados como "Dois Homens e Meio" (Two and a Half Men), "Big Bang: A Teoria" (The Big Bang Theory) e "Jovem Sheldon" (Young Sheldon) dentre outros.
Isabela Boscov da Revista Veja nos conta que "Sandy Kominsky (Michael Douglas) ainda tem uma vaga pretensão a tigrão, mas a próstata já não ajuda: a cada cinco minutos ele tem que ir ao banheiro e esperar que duas ou três gotinhas se dignem a sair. Num bar cheio de gente mais jovem, ele perde a paciência; os jorros que os rapazes produzem ao seu lado lhe parecem uma provocação pessoal. É hora de ter um urologista só seu. Ou ao menos um urologista emprestado por seu agente e melhor amigo/inimigo, Norman (Alan Arkin), mais velho, mais regrado, mas ainda mais infeliz que Sandy.
Norman acabou de perder a mulher com quem foi casado a vida inteira e, de tão sem saber o que fazer, continua conversando com ela normalmente, embora saiba que isso é doidice. Conversa, por exemplo, sobre que atitude tomar em relação a Phoebe (Lisa Edelstein), a filha já cinquentona mas ainda sem pé nem cabeça, frequentadora habitual – e fracassada – de rehabs [programas de reabilitação para drogados]. Ou sobre se deve ou não emprestar uma bolada a Sandy para que ele possa quitar sua dívida com o fisco (desde que seu contador morreu, Sandy não declara imposto de renda) e evitar assim a perda do estúdio em que ensina arte dramática a jovens esperançosos em Hollywood – e principalmente evitar que Mindy (Sarah Baker), a filha de Sandy, tão dedicada e sofredora, se arruíne junto com ele.
Envelhecer não é fácil. Não só os problemas da juventude e da meia-idade se arrastam e até se agravam, como novos e humilhantes problemas vêm fazer companhia a eles.
(...) Repleta de humor e, às vezes, de tristeza, 'O Método Kominsky', da Netflix, ao mesmo tempo prova e nega a sua tese. Prova porque Douglas, com 74 anos, e Arkin, com 84, não estão falando de velhice, doença e perda de orelhada, mas sim com conhecimento de causa – e porque, convenhamos, não há muita dificuldade em demonstrar que essa história de 'melhor idade' é conversa para boi dormir. A melhor idade, argumentam Douglas, Arkin e o criador da série, Chuck Lorre, é aquela em que não se é lembrado da própria mortalidade várias vezes ao dia. Por outro lado, 'O Método Kominsky' parcialmente desmente a sua tese dando papéis tão ricos a dois atores vastamente vividos, experientes e talentosos, mas já numa fase da carreira em que é raro ser protagonista.
Chuck Lorre (...) em geral é adepto de um humor mais direto que o de 'O Método Kominsky'. Mas, aos 66 anos, também ele já dobrou mais uma curva e pensou em mais duas ou três coisas a respeito da vida – manifestas, por exemplo, no senso de absurdo mas também respeito que marcam até personagens secundários como o antiquíssimo garçom que arrasta os pés no restaurante que Norman e Sandy frequentam. Ou no cansaço ainda terno com que Sandy enfrenta as classes lotadas de jovens que ainda creem, como ele próprio acreditou um dia, que vão fazer e acontecer.
Lorre, porém, marca mais um ponto ao não se apoiar demais na obsessão de Hollywood com a juventude. Até no título dos episódios, formulados à maneira das marcações de cena dadas para um ator num ensaio ou numa aula – 'Um Ator Desconversa', 'Uma Viúva se Aproxima' –, ele rumina aqui sobre um aspecto bem mais interessante da trajetória de seus protagonistas, ou de qualquer um que se veja no mesmo estirão que eles: no momento em que se desiste de participar do drama cotidiano, aí que se perdeu não só a batalha como a própria guerra".
Apesar do personagem Norman (Alan Arkin) ter sido desenvolvido para seguir até o fim, a terceira temporada acabou sendo rodada sem o ator. Patrícia Kogut do site O Globo nos conta que "por razões alheias à pandemia de covid (o anúncio foi feito antes dela), ele decidiu deixar o projeto. Não precisa ser o espectador mais desconfiado do mundo para imaginar que a série tinha sofrido um baque irrecuperável". Entretanto, ela diz "que os roteiristas deram uma rasteira nesse vácuo tão radical. E [que a terceira temporada] merece toda a sua atenção.
De muitas maneiras, Norman seguiu na trama. É uma presença incorpórea, mas forte. O personagem faleceu, mas até isso está em sintonia com a história. Afinal, 'O Método Kominsky' trata - sem meias palavras - dos aspectos menos dignos, digamos, do envelhecimento. E fala da morte. Enfrenta sem aliviar assuntos tabu, como algumas doenças. Faz isso com um certo humor judaico, mordaz e muitas vezes autodepreciativo. É comédia leve, mas nem tanto. Verdades são ditas. Seus heróis dignificam a decrepitude ao debochar dela".
Em nota: Alan Arkin faleceu na vida real. Ele deixou a série em 2021, mas acabou morrendo de ataque cardíaco em 2023 aos 89 anos.
O que eu achei: Apesar do tema do seriado ser a terceira idade, tratando de assuntos como viuvez, problemas de saúde e morte, a abordagem consegue ser leve e engraçada. Nos papéis principais estão os atores Michael Douglas, nascido em 1944 (quando o seriado começou ele estava com 74 anos) e Alan Arkin, nascido em 1934 (quando o seriado começou ele estava com 84 anos). Michael Douglas interpreta Sandy Kominsky, um ator que, por muitos anos, tentou alcançar a fama em Hollywood, mas teve apenas um breve momento de sucesso. Ele monta uma escola e se dedica a treinar artistas iniciantes, desenvolvendo e aplicando uma metodologia própria (o tal método Kominsky). Ele já se casou três vezes e tem uma filha que o ajuda a administrar a escola. Alan Arkin interpreta Norman Newlander, seu agente de longa data e melhor amigo. Ele acabou de perder a esposa, precisa se adaptar à vida de viúvo, ao mesmo tempo que precisa cuidar da filha viciada e ajudá-la a abandonar as drogas. A dupla possui uma química excelente. Alan Arkin tem aquele humor refinado enquanto Michael Douglas mostra a maturidade de um bom ator. Os diálogos entre os dois são impagáveis. Uma pena que Alan Arkin não prosseguiu na terceira e última temporada que foi ao ar em 2021. Dizem que ele pediu para sair antes da pandemia de covid começar, muito provavelmente por conta da idade e da saúde, já que, em 2023 ele veio a falecer de ataque cardíaco. Claro que sua saída fez total diferença no tom do seriado. Chuck Lorre, criador da série, teve que se virar nos 30 para dar um fim digno aos personagens, incrementando o elenco com nomes como Kathleen Turner (que já foi par romântico do Michael Douglas em diversos longas), Morgan Freeman e Haley Joel Osment (o garoto do filme "O Sexto Sentido"). Vai agradar especialmente quem já estiver na terceira idade, mas é também uma boa opção para quem estiver procurando um seriado rápido (são 22 episódios com menos de 30 minutos cada um), emocionante, engraçado e finalizado.  Boa pedida.