
Comentário: Bernardo Quesney (1989) é um cineasta chileno. Ele estreou como diretor aos 22 anos com “Efeitos Especiais” (2011). Em 2014 escreveu e dirigiu “Desastres Naturais”. Dirigiu mais de 30 videoclipes no Chile, Argentina, México e Espanha. "História & Geografia" (2023) é o primeiro filme que vejo dele.
Sofía García-Huidobro do site Diario Financiero nos conta que tudo acontece em San Felipe. Bernardo Quesney (32 anos) nasceu e cresceu nesta cidade da V Região, foi lá que ele conheceu seus amigos Milton Mahan e Mariana Montenegro, ex-integrantes da dupla chilena indie Dënver e foi lá que ele filmou seu mais recente filme "História & Geografia".
Em entrevista o cineasta chileno explicou que o filme é sobre uma atriz madura chamada Gioconda Martínez (interpretada por Amparo Noguera), reconhecida por interpretar personagens cômicas na televisão e que, buscando fazer algo 'mais sério', decide encenar uma peça que aborde a temática mapuche, tendo como texto base o poema épico "La Araucana" de Alonso de Ercilla, publicado entre 1574 e 1589, que relata a primeira fase da Guerra de Arauco entre espanhóis e mapuches. Esse poema ainda é ensinado nas escolas, mas agora é lido como uma versão romantizada da conquista.
Decisões como a escalação de atores haitianos para interpretar os personagens mapuches da peça, somadas a uma série de erros, revelam a falta de conhecimento da personagem sobre o assunto e a levam a todo tipo de situações ridículas. Ela também dialoga com a realidade local já que a peça será encenada na cidade de San Felipe que, desde 2016, vem acolhendo inúmeros haitianos que se estabelecem ali com sonhos, muitas vezes não realizados, de uma vida melhor.
"O filme faz piada com muitas coisas, mas não se trata apenas de fazer piada com as coisas; trata-se de tentar entender. É uma comédia, mas tem mais uma pegada de humor constrangedor", explica o diretor, que trabalhou com o escritor e roteirista Simón Soto e foi aconselhado por Diego Ayala.
"Ser ator é um pesadelo: o processo de seleção de elenco é assustador, o salário geralmente não é tão bom, você é rotulado e as pessoas te julgam. Conheci muitos atores, e eles enfrentam uma onda de inseguranças. Um projeto termina e eles se sentem vazios; não sabem o que vem a seguir. Sofrem com a exposição, mas ainda gostam" diz Quesney. "Além disso, a profissão é cruel especialmente com as mulheres. Enquanto os protagonistas homens podem ter 55 anos, mas suas parceiras estão cada vez mais jovens". Essa insegurança pode se traduzir em comportamentos erráticos como os da personagem Gioconda Martínez em "História & Geografia".
No elenco, além de Amparo Noguera, estão os atores Catalina Saavedra, Paulina Urrutia, Pablo Schwarz e Paloma Moreno, além de vários personagens secundários interpretados por moradores de San Felipe que participaram de um casting local.
O que disse a crítica: Mao Osório do site La Fuga gostou. Disse: "Em linhas gerais, 'História & Geografia' aborda o problema da representação como uma das causas centrais da desconexão entre a arte e seu público. A escolha de 'La Araucana', de Alonso de Ercilla, como obra fundadora da nação chilena não é acidental; o filme sugere que esta obra, mais do que um relato histórico, é uma poesia épica, sublinhando um conflito de representação desde as origens do Chile como nação. Ao trazer este texto para o presente, o filme não apenas expõe tensões culturais atuais, mas também nos convida a questionar como as narrativas oficiais moldam nossa percepção da arte e da identidade".
O site Infobae também gostou. Escreveram: "A narrativa de Quesney se destaca por sua originalidade, abordando com ousadia e humor temas históricos e culturais delicados, convidando à reflexão sobre a identidade chilena a partir de uma perspectiva inovadora e provocativa. Assim, este filme se apresenta não apenas como uma obra de entretenimento, mas também como um veículo de diálogo e introspecção. Utilizando cenários naturais da pitoresca cidade de San Felipe (região de Valparaíso, centro do Chile), 'História & Geografia' conseguiu capturar a beleza da paisagem e a essência de sua cultura, promovendo assim um intercâmbio enriquecedor entre tradição e inovação artística".
O que eu achei: Por conta de uma indicação dada pelo diretor Walter Salles, resolvi assistir o longa "História & Geografia" (2023) do chileno Bernardo Quesney. O filme fala sobre os problemas que você se arruma ao abraçar a profissão de ator. Os constrangimentos já começam no casting, aquele momento no qual você se submete a um teste de elenco onde será julgado pela sua atuação. Se reprovado você lida com a frustração e a sensação de tempo perdido, se aprovado segue para a atuação propriamente dita onde, não só o diretor do espetáculo te julga, mas seus colegas, o público e a crítica especializada. Ao terminar o trabalho vem o vazio, a falta de rumo, a ansiedade e a depressão. Fora os problemas com a fama que faz com que sua vida seja vasculhada, exposta, julgada e talvez cancelada. O próprio diretor concedeu uma entrevista dizendo que é inacreditável como muitos gostam de levar essa vida. Na trama a atriz Gioconda Martínez (interpretada por Amparo Noguera), filha de um dramaturgo, atinge a fama conseguindo um papel num seriado humorístico contextualizado no final da ditadura chilena no qual ela diz basicamente uma única fala: 'Deus dá o pão a quem não tem dentes'. O seriado é de péssimo gosto e seu papel é constrangedor, fazendo com que sua fala repetida inúmeras vezes vire um bordão. Com isso, quando o seriado acaba, ela fica marcada por esse personagem popular e sem rumo. Famosa, mas incompetente, ela sai batendo cabeça à procura de um novo papel. Ao ser reprovada em todos e vendo que atores e diretores mais consagrados a evitam, ela resolve voltar à sua cidade natal para dirigir uma peça baseada no romance "La Araucana" de Alonso de Ercilla que conta, de forma equivocada, as origens do Chile como nação. O filme, catalogado como comédia, poderia ter seu gênero ampliado para 'comédia cáustica desoladora' frente às escolhas equivocadas que Gioconda fará no decorrer de sua empreitada. O longa consegue mesclar humor afiado com uma reflexão sobre a história chilena, especialmente em temas como a conquista e a cultura mapuche, expondo ironias como o progressismo superficial, o fetichismo indígena e a desconexão cultural entre a elite e o público de massa. Além disso a narrativa foca intensamente a autoindulgência artística e as contradições do sistema cultural chileno. Entretanto, embora o humor funcione bem, os elementos mais dramáticos nem sempre alcançam a mesma força, deixando o drama e a tensão social vividos pela atriz de lado, finalizando como um filme regular cujo maior valor é abordar de forma espirituosa os temas propostos.
Sofía García-Huidobro do site Diario Financiero nos conta que tudo acontece em San Felipe. Bernardo Quesney (32 anos) nasceu e cresceu nesta cidade da V Região, foi lá que ele conheceu seus amigos Milton Mahan e Mariana Montenegro, ex-integrantes da dupla chilena indie Dënver e foi lá que ele filmou seu mais recente filme "História & Geografia".
Em entrevista o cineasta chileno explicou que o filme é sobre uma atriz madura chamada Gioconda Martínez (interpretada por Amparo Noguera), reconhecida por interpretar personagens cômicas na televisão e que, buscando fazer algo 'mais sério', decide encenar uma peça que aborde a temática mapuche, tendo como texto base o poema épico "La Araucana" de Alonso de Ercilla, publicado entre 1574 e 1589, que relata a primeira fase da Guerra de Arauco entre espanhóis e mapuches. Esse poema ainda é ensinado nas escolas, mas agora é lido como uma versão romantizada da conquista.
Decisões como a escalação de atores haitianos para interpretar os personagens mapuches da peça, somadas a uma série de erros, revelam a falta de conhecimento da personagem sobre o assunto e a levam a todo tipo de situações ridículas. Ela também dialoga com a realidade local já que a peça será encenada na cidade de San Felipe que, desde 2016, vem acolhendo inúmeros haitianos que se estabelecem ali com sonhos, muitas vezes não realizados, de uma vida melhor.
"O filme faz piada com muitas coisas, mas não se trata apenas de fazer piada com as coisas; trata-se de tentar entender. É uma comédia, mas tem mais uma pegada de humor constrangedor", explica o diretor, que trabalhou com o escritor e roteirista Simón Soto e foi aconselhado por Diego Ayala.
"Ser ator é um pesadelo: o processo de seleção de elenco é assustador, o salário geralmente não é tão bom, você é rotulado e as pessoas te julgam. Conheci muitos atores, e eles enfrentam uma onda de inseguranças. Um projeto termina e eles se sentem vazios; não sabem o que vem a seguir. Sofrem com a exposição, mas ainda gostam" diz Quesney. "Além disso, a profissão é cruel especialmente com as mulheres. Enquanto os protagonistas homens podem ter 55 anos, mas suas parceiras estão cada vez mais jovens". Essa insegurança pode se traduzir em comportamentos erráticos como os da personagem Gioconda Martínez em "História & Geografia".
No elenco, além de Amparo Noguera, estão os atores Catalina Saavedra, Paulina Urrutia, Pablo Schwarz e Paloma Moreno, além de vários personagens secundários interpretados por moradores de San Felipe que participaram de um casting local.
O que disse a crítica: Mao Osório do site La Fuga gostou. Disse: "Em linhas gerais, 'História & Geografia' aborda o problema da representação como uma das causas centrais da desconexão entre a arte e seu público. A escolha de 'La Araucana', de Alonso de Ercilla, como obra fundadora da nação chilena não é acidental; o filme sugere que esta obra, mais do que um relato histórico, é uma poesia épica, sublinhando um conflito de representação desde as origens do Chile como nação. Ao trazer este texto para o presente, o filme não apenas expõe tensões culturais atuais, mas também nos convida a questionar como as narrativas oficiais moldam nossa percepção da arte e da identidade".
O site Infobae também gostou. Escreveram: "A narrativa de Quesney se destaca por sua originalidade, abordando com ousadia e humor temas históricos e culturais delicados, convidando à reflexão sobre a identidade chilena a partir de uma perspectiva inovadora e provocativa. Assim, este filme se apresenta não apenas como uma obra de entretenimento, mas também como um veículo de diálogo e introspecção. Utilizando cenários naturais da pitoresca cidade de San Felipe (região de Valparaíso, centro do Chile), 'História & Geografia' conseguiu capturar a beleza da paisagem e a essência de sua cultura, promovendo assim um intercâmbio enriquecedor entre tradição e inovação artística".
O que eu achei: Por conta de uma indicação dada pelo diretor Walter Salles, resolvi assistir o longa "História & Geografia" (2023) do chileno Bernardo Quesney. O filme fala sobre os problemas que você se arruma ao abraçar a profissão de ator. Os constrangimentos já começam no casting, aquele momento no qual você se submete a um teste de elenco onde será julgado pela sua atuação. Se reprovado você lida com a frustração e a sensação de tempo perdido, se aprovado segue para a atuação propriamente dita onde, não só o diretor do espetáculo te julga, mas seus colegas, o público e a crítica especializada. Ao terminar o trabalho vem o vazio, a falta de rumo, a ansiedade e a depressão. Fora os problemas com a fama que faz com que sua vida seja vasculhada, exposta, julgada e talvez cancelada. O próprio diretor concedeu uma entrevista dizendo que é inacreditável como muitos gostam de levar essa vida. Na trama a atriz Gioconda Martínez (interpretada por Amparo Noguera), filha de um dramaturgo, atinge a fama conseguindo um papel num seriado humorístico contextualizado no final da ditadura chilena no qual ela diz basicamente uma única fala: 'Deus dá o pão a quem não tem dentes'. O seriado é de péssimo gosto e seu papel é constrangedor, fazendo com que sua fala repetida inúmeras vezes vire um bordão. Com isso, quando o seriado acaba, ela fica marcada por esse personagem popular e sem rumo. Famosa, mas incompetente, ela sai batendo cabeça à procura de um novo papel. Ao ser reprovada em todos e vendo que atores e diretores mais consagrados a evitam, ela resolve voltar à sua cidade natal para dirigir uma peça baseada no romance "La Araucana" de Alonso de Ercilla que conta, de forma equivocada, as origens do Chile como nação. O filme, catalogado como comédia, poderia ter seu gênero ampliado para 'comédia cáustica desoladora' frente às escolhas equivocadas que Gioconda fará no decorrer de sua empreitada. O longa consegue mesclar humor afiado com uma reflexão sobre a história chilena, especialmente em temas como a conquista e a cultura mapuche, expondo ironias como o progressismo superficial, o fetichismo indígena e a desconexão cultural entre a elite e o público de massa. Além disso a narrativa foca intensamente a autoindulgência artística e as contradições do sistema cultural chileno. Entretanto, embora o humor funcione bem, os elementos mais dramáticos nem sempre alcançam a mesma força, deixando o drama e a tensão social vividos pela atriz de lado, finalizando como um filme regular cujo maior valor é abordar de forma espirituosa os temas propostos.