
Comentário: Sergei Eisenstein (1898-1948) foi um cineasta letão dos mais importantes da história do cinema. Relacionado ao movimento de vanguarda da arte russa, participou ativamente da Revolução Bolchevique de 1917 e da consolidação do cinema como meio de expressão artística. Sua obra influenciou fortemente os primeiros cineastas devido ao uso inovador da montagem. Assisti dele a obra prima “O Encouraçado Potemkin” (1925), os excelentes "Outubro" (1927), "Alexandre Nevsky" (1938) e "Ivan, o Terrível” Parte I (1944) e Parte II (1958), além do curioso "Que Viva México!" (1932).
Desta vez vou conferir o primeiro filme feito por Eisenstein: “A Greve” (1925), um filme mudo composto por seis atos, feito quando o cineasta tinha apenas 26 anos de idade. Com uma abordagem didática, ele retrata as lutas ocorridas antes da Revolução de outubro de 1917, mostrando uma ocorrência datada de 1903 na qual trabalhadores de uma fábrica se unem contra a exploração e as injustiças em seu meio de trabalho.
Jesse Lisboa do jornal “A Verdade” nos conta tratar-se de um filme “que aborda a luta dos trabalhadores por seus direitos. Esse longa-metragem é um exemplo do cinema soviético da década de 1920, que tinha como objetivo retratar o cotidiano do povo e suas lutas, além de estabelecer referências de montagem no cinema.
O período que se seguiu à revolução de 1917 na Rússia foi marcado pelo Construtivismo Russo, uma iniciativa que defendia a ideia de que o cinema não poderia estar distante do povo, mas sim que deveria ser construído a partir de seu cotidiano. Assim, os cineastas soviéticos procuravam retratar a realidade de forma direta, pondo em questão a luta de classes e a recente revolução. A montagem era a principal ferramenta para a construção de um filme. A sequência de imagens, organizadas a fim de estabelecer relações de causa e efeito, era capaz de transmitir ideias complexas de maneira acessível. Sendo assim, a montagem era vista como uma forma de transformar o cinema em um recurso de agitação e propaganda.
‘A Greve’ é um exemplo dessa abordagem. O filme retrata a morte de um trabalhador, acusado injustamente de roubo, e a consequente greve organizada pelos trabalhadores. É importante evidenciar que o cenário histórico do filme é a Rússia pré-revolucionária, mais especificamente de 1903. O filme começa mostrando uma frase de Lênin, que diz o seguinte: ‘A força da classe trabalhadora é a organização. Sem organização das massas, o proletariado não é nada; organizado é tudo. Ser organizado significa unidade de ação, unidade de atividade prática’. Mais tarde, a narrativa do filme vai sendo construída a partir de uma série de imagens que mostram a opressão dos trabalhadores pela classe dominante e sua luta por seus direitos. A montagem é utilizada de forma a tornar explícita a ideia de que a greve é uma resposta à opressão sentida pelos trabalhadores.
O filme de Eisenstein utiliza metáforas visuais para enfatizar sua mensagem. As imagens dos animais, tão presentes em suas outras obras cinematográficas, são utilizadas aqui para representar a luta dos trabalhadores contra seus opressores. A imagem mais marcante do filme é a cena que fecha o longa, em que é comparado ao abate de um porco com a chacina dos trabalhadores grevistas. Nesta cena, o diretor propõe uma atmosfera de tensão e angústia, transmitindo a ideia de que a luta dos trabalhadores é uma luta pela vida.
Ao final do filme, a frase ‘Lembrem-se camaradas!’ é exibida, destacando o objetivo do filme de transmitir uma mensagem revolucionária para a população soviética, diante de uma recente revolução que pôs fim às antigas opressões do regime czarista. A mensagem final do filme expressa que a luta da classe trabalhadora é uma luta pela justiça e pela democracia proletária!”
O que disse a crítica: Luiz Santiago do Plano Crítico avaliou com 3,5 estrelas, ou seja, muito bom. Disse: “O fluxo de ideias, a inteligência na composição, plasticidade das cenas (os três diretores de fotografia do filme certamente tiveram um imenso trabalho para capturar as imagens) e o sentido final na mesa de edição fizeram deste filme (...) uma referência não só para o cinema soviético mas para o mundo todo. A obra é rica em sua concepção fílmica e o conceito de exibir uma ideia geral poderia facilmente sair vazia, mas não é isso que acontece. A fita cumpre o seu propósito. Existem exageros de concepção e retratação dos ‘atores históricos’, tanto de um lado quanto de outro, mas isto é apenas parte dos pontos interessantes para os quais podemos fazer a leitura e trazer à discussão e crítica. Em ‘A Greve’ temos o nascimento de um novo modelo de fazer cinema, bem como a origem de uma teoria de montagem que geraria inúmeros descendentes pelas décadas seguintes. Um filme de importância histórica em muitas dimensões”.
Geoff Andrew da Revista Time Out também gostou. Escreveu: “A história em si é simples: trabalhadores entram em confronto violento com patrões e policiais durante uma greve prolongada na fábrica, provocada pela demissão e subsequente suicídio de um deles. Mas os métodos de Eisenstein são complexos e extraordinários: sua decisão de fazer das massas, em vez de qualquer indivíduo, seu herói confere ao filme um alcance verdadeiramente épico; as caricaturas cruéis dos capitalistas burgueses proporcionam humor e uma manipulação emocional efetivamente poderosa; e a edição, rápida, fluida e extremamente precisa, fornece não apenas ritmo, mas uma miríade de significados metafóricos que vão muito além da mera propaganda”.
O que eu achei: Trata-se do primeiro filme feito pelo grande cineasta russo Sergei Eisenstein aos 26 anos de idade. O filme, que é mudo, foi dividido em 6 partes: "Na fábrica tudo está tranquilo" que descreve a vida na fábrica antes da greve, a opressão dos trabalhadores e a falta de condições de trabalho; "O motivo para a greve" que mostra a causa que leva os operários a organizar a greve e o começo da agitação; "A fábrica paralisa" com a greve se iniciando e a produção da fábrica sendo interrompida; "A greve é desencadeada" mostrando a greve se prolongar e a situação se agravar, com os trabalhadores enfrentando privações; "Provocação e desastre" mostrando os agentes provocando o caos e a violência entre os grevistas e, por fim, "Extermínio" mostrando a implantação de leis marciais e a extinção da greve através de atos de violência. A trama se passa na Rússia pré-revolucionária, numa fábrica em 1903 e, apesar de ser o primeiro filme do diretor, já é possível notar uma grande criatividade na montagem, marcando um momento decisivo de evolução do cinema. No elenco estão os atores do Teatro dos Trabalhadores do Proletcult, um movimento iniciado em 1917 que defendia a ideia da criação de uma nova cultura soviética, incluindo a defesa de uma estética marxista para as artes, uma estética de classe verdadeiramente proletária, livre de todos os vestígios da cultura burguesa. O resultado é um filme cheio de energia, sua edição dinâmica continua emocionante até hoje mostrando um conflito de classes não só pelo viés político, mas também por sua humanidade, transparecendo o brilho imaginativo do diretor. Uma pequena pérola dentro da história do cinema. Imperdível.
Desta vez vou conferir o primeiro filme feito por Eisenstein: “A Greve” (1925), um filme mudo composto por seis atos, feito quando o cineasta tinha apenas 26 anos de idade. Com uma abordagem didática, ele retrata as lutas ocorridas antes da Revolução de outubro de 1917, mostrando uma ocorrência datada de 1903 na qual trabalhadores de uma fábrica se unem contra a exploração e as injustiças em seu meio de trabalho.
Jesse Lisboa do jornal “A Verdade” nos conta tratar-se de um filme “que aborda a luta dos trabalhadores por seus direitos. Esse longa-metragem é um exemplo do cinema soviético da década de 1920, que tinha como objetivo retratar o cotidiano do povo e suas lutas, além de estabelecer referências de montagem no cinema.
O período que se seguiu à revolução de 1917 na Rússia foi marcado pelo Construtivismo Russo, uma iniciativa que defendia a ideia de que o cinema não poderia estar distante do povo, mas sim que deveria ser construído a partir de seu cotidiano. Assim, os cineastas soviéticos procuravam retratar a realidade de forma direta, pondo em questão a luta de classes e a recente revolução. A montagem era a principal ferramenta para a construção de um filme. A sequência de imagens, organizadas a fim de estabelecer relações de causa e efeito, era capaz de transmitir ideias complexas de maneira acessível. Sendo assim, a montagem era vista como uma forma de transformar o cinema em um recurso de agitação e propaganda.
‘A Greve’ é um exemplo dessa abordagem. O filme retrata a morte de um trabalhador, acusado injustamente de roubo, e a consequente greve organizada pelos trabalhadores. É importante evidenciar que o cenário histórico do filme é a Rússia pré-revolucionária, mais especificamente de 1903. O filme começa mostrando uma frase de Lênin, que diz o seguinte: ‘A força da classe trabalhadora é a organização. Sem organização das massas, o proletariado não é nada; organizado é tudo. Ser organizado significa unidade de ação, unidade de atividade prática’. Mais tarde, a narrativa do filme vai sendo construída a partir de uma série de imagens que mostram a opressão dos trabalhadores pela classe dominante e sua luta por seus direitos. A montagem é utilizada de forma a tornar explícita a ideia de que a greve é uma resposta à opressão sentida pelos trabalhadores.
O filme de Eisenstein utiliza metáforas visuais para enfatizar sua mensagem. As imagens dos animais, tão presentes em suas outras obras cinematográficas, são utilizadas aqui para representar a luta dos trabalhadores contra seus opressores. A imagem mais marcante do filme é a cena que fecha o longa, em que é comparado ao abate de um porco com a chacina dos trabalhadores grevistas. Nesta cena, o diretor propõe uma atmosfera de tensão e angústia, transmitindo a ideia de que a luta dos trabalhadores é uma luta pela vida.
Ao final do filme, a frase ‘Lembrem-se camaradas!’ é exibida, destacando o objetivo do filme de transmitir uma mensagem revolucionária para a população soviética, diante de uma recente revolução que pôs fim às antigas opressões do regime czarista. A mensagem final do filme expressa que a luta da classe trabalhadora é uma luta pela justiça e pela democracia proletária!”
O que disse a crítica: Luiz Santiago do Plano Crítico avaliou com 3,5 estrelas, ou seja, muito bom. Disse: “O fluxo de ideias, a inteligência na composição, plasticidade das cenas (os três diretores de fotografia do filme certamente tiveram um imenso trabalho para capturar as imagens) e o sentido final na mesa de edição fizeram deste filme (...) uma referência não só para o cinema soviético mas para o mundo todo. A obra é rica em sua concepção fílmica e o conceito de exibir uma ideia geral poderia facilmente sair vazia, mas não é isso que acontece. A fita cumpre o seu propósito. Existem exageros de concepção e retratação dos ‘atores históricos’, tanto de um lado quanto de outro, mas isto é apenas parte dos pontos interessantes para os quais podemos fazer a leitura e trazer à discussão e crítica. Em ‘A Greve’ temos o nascimento de um novo modelo de fazer cinema, bem como a origem de uma teoria de montagem que geraria inúmeros descendentes pelas décadas seguintes. Um filme de importância histórica em muitas dimensões”.
Geoff Andrew da Revista Time Out também gostou. Escreveu: “A história em si é simples: trabalhadores entram em confronto violento com patrões e policiais durante uma greve prolongada na fábrica, provocada pela demissão e subsequente suicídio de um deles. Mas os métodos de Eisenstein são complexos e extraordinários: sua decisão de fazer das massas, em vez de qualquer indivíduo, seu herói confere ao filme um alcance verdadeiramente épico; as caricaturas cruéis dos capitalistas burgueses proporcionam humor e uma manipulação emocional efetivamente poderosa; e a edição, rápida, fluida e extremamente precisa, fornece não apenas ritmo, mas uma miríade de significados metafóricos que vão muito além da mera propaganda”.
O que eu achei: Trata-se do primeiro filme feito pelo grande cineasta russo Sergei Eisenstein aos 26 anos de idade. O filme, que é mudo, foi dividido em 6 partes: "Na fábrica tudo está tranquilo" que descreve a vida na fábrica antes da greve, a opressão dos trabalhadores e a falta de condições de trabalho; "O motivo para a greve" que mostra a causa que leva os operários a organizar a greve e o começo da agitação; "A fábrica paralisa" com a greve se iniciando e a produção da fábrica sendo interrompida; "A greve é desencadeada" mostrando a greve se prolongar e a situação se agravar, com os trabalhadores enfrentando privações; "Provocação e desastre" mostrando os agentes provocando o caos e a violência entre os grevistas e, por fim, "Extermínio" mostrando a implantação de leis marciais e a extinção da greve através de atos de violência. A trama se passa na Rússia pré-revolucionária, numa fábrica em 1903 e, apesar de ser o primeiro filme do diretor, já é possível notar uma grande criatividade na montagem, marcando um momento decisivo de evolução do cinema. No elenco estão os atores do Teatro dos Trabalhadores do Proletcult, um movimento iniciado em 1917 que defendia a ideia da criação de uma nova cultura soviética, incluindo a defesa de uma estética marxista para as artes, uma estética de classe verdadeiramente proletária, livre de todos os vestígios da cultura burguesa. O resultado é um filme cheio de energia, sua edição dinâmica continua emocionante até hoje mostrando um conflito de classes não só pelo viés político, mas também por sua humanidade, transparecendo o brilho imaginativo do diretor. Uma pequena pérola dentro da história do cinema. Imperdível.