10.8.25

“Megalópolis” - Francis Ford Coppola (EUA, 2024)

Sinopse:
 
Cesar Catilina (Adam Driver), um arquiteto idealista que quer construir a cidade dos sonhos, tem como grande rival o ganancioso prefeito Franklin Cicero (Giancarlo Esposito), cuja filha Julia (Nathalie Emmanuel) se vê dividida entre a lealdade ao pai e o amor por Cesar.
Comentário: Francis Ford Coppola (1963) é um produtor, roteirista e cineasta ítalo-norte-americano. É filho do compositor Carmine Coppola, pai da cineasta Sofia Coppola e avô da também cineasta Gia Coppola, além de ser tio do Nicolas Cage e irmão da atriz Talia Shire. Já foi indicado 14 vezes ao Oscar e venceu 5 vezes. Já assisti dele 10 filmes, dentre eles as obras-primas "O Poderoso Chefão" (1972) e "Apocalypse Now" (1979), o excelente "Drácula de Bram Stocker" (1992) e o bom "Agora Você é um Homem" (1966). Desta vez vou conferir o polêmico “Megalópolis” (2024).
Flávio Pinto em colaboração para o site CNN nos conta que esse novo filme do Coppola foi “financiado de forma independente e considerado ‘o projeto dos sonhos’ do diretor”. Ele listou alguns pontos interessantes sobre o filme:
- Inspiração em Curitiba
“’Megalópolis’ tem inspiração na cidade de Curitiba. A produção acompanha um conflito na cidade fictícia Nova Roma em que as pessoas precisam escolher entre o lado visionário utópico de Cesar Catilina (Adam Driver), com o projeto de uma nova versão de cidade, e o pragmatismo realista de Franklyn Cicero (Giancarlo Esposito). Em uma entrevista à imprensa em setembro, Coppola compartilhou que o personagem de Adam Driver e o projeto que ele defende na história foram inspirados, respectivamente, em Jaime Lerner, ex-governador do Paraná, e na cidade de Curitiba. Segundo ele, as ideias inovadoras da cidade brasileira influenciaram a concepção do projeto igualmente utópico proposto pelo protagonista, Cesar Catilina, que, assim como Jaime Lerner, é um urbanista visionário comprometido com a transformação de Nova Roma. Na passagem do cineasta pelo Brasil, Coppola novamente falou sobre o conceito inspirado sobre a cidade do sul do país. ‘Curitiba representa o protótipo do que fiz com ‘Megalópolis’’, disse, elogiando também o projeto de saneamento básico da cidade. ‘É o lugar com o maior nível de cuidado com a coleta seletiva (...)’”.
- Alegoria da jornada de Coppola
“Coppola já havia mencionado que a produção, além de ter uma narrativa única e distinta, é uma alegoria de sua própria jornada no cinema. ‘Todos os meus filmes são’, disse ele em entrevista. ‘Quando eu era jovem e fiz ‘O Poderoso Chefão’, tive que ser como Michael (Corleone), porque eu não tinha poder e tive que ser muito maquiavélico. Quando fiz ‘Apocalypse Now’, eu estava em uma situação absurda com helicópteros e milhões de dólares toda semana que eu estava pagando, então tive que me tornar um megalomaníaco como (o Coronel) Kurtz. Sabe, sempre me tornei os personagens de meus filmes apenas para sobreviver’, acrescentou. (...)”
- Trailer falso?
“Outro ponto polêmico em torno do lançamento de ‘Megalópolis’ foi um trailer que apresentava supostos trechos de críticas negativas sobre alguns dos filmes mais icônicos do cineasta, como ‘Apocalypse Now’ e ‘O Poderoso Chefão’ enquanto promovia sua nova produção. Em entrevista à Entertainment Weekly, Coppola afirmou estar ciente de que alguns de seus filmes não foram aclamados pela crítica, mas que não tinha conhecimento exato do que havia ocorrido com o trailer de ‘Megalópolis’. ‘Foi um erro, um acidente. Não tenho certeza do que aconteceu’, admitiu. (...) Após o lançamento da prévia, usuários pesquisaram as críticas atribuídas a Pauline Kael e Roger Ebert, que apareciam no vídeo, e descobriram que, na verdade, esses críticos haviam elogiado os filmes de Coppola em seus textos originais. Na mesma noite, a Lionsgate, distribuidora do longa-metragem, anunciou que retiraria o trailer de seus canais oficiais e pediu desculpas pelo ocorrido. ‘Pedimos desculpas sinceras aos críticos envolvidos, a Francis Ford Coppola e à American Zoetrope por esse erro inaceitável em nosso processo de verificação. Nós erramos. Lamentamos.’, dizia o comunicado. Além do pedido de desculpas, a companhia também demitiu o consultor de marketing Eddie Egan, que admitiu ter utilizado inteligência artificial para criar as falsas citações”.
A crítica especializada está bastante dividida e o filme chegou a ser indicado e vencer diversas categorias do Framboesa de Ouro, Coppola declarou: “Estou emocionado por aceitar o prêmio Framboesa de Ouro em tantas categorias importantes para ‘Megalópolis’, e pela honra distinta de ser indicado como o Pior Diretor, Pior Roteiro e Pior Filme em um momento em que tão poucos têm coragem de ir contra as tendências predominantes da produção cinematográfica contemporânea!”
O que disse a crítica: Wendy Ide do The Guardian avaliou com 2 estrelas, algo como fraco ou ruim. Disse: “Você pensaria que um filme com uma gestação tão longa – Francis Ford Coppola supostamente teve a ideia para ‘Megalópolis’ em 1977 e começou a escrevê-la em 1983 – e que foi realizado a um custo pessoal tão considerável – Coppola vendeu um vinhedo [ou parte dele] para autofinanciá-lo – teria algo significativo a dizer. Mas, apesar de toda a sua ambição visual impactante, vitrine filosófica e referências literárias aleatórias, esta é uma obra de um vazio gritante. Uma estridente loucura retrofuturista que mistura o kitsch à la Ken Russell com uma presunçosa autoimportância, o filme expõe seu conceito central – que a América moderna segue o modelo da Roma Antiga – com uma reverência que essa ideia não justifica”.
Caio Coletti do site Omelete avaliou com 5 estrelas, ou seja, obra-prima. Escreveu: “’Megalópolis’ talvez não seja uma ‘grande obra’, mas certamente é um filme excitante. Chega a ser excitante, inclusive, a sua própria existência como produto, dentro de uma indústria dominada por interesses corporativos que cada vez mais se afastam do processo criativo. Que Francis Ford Coppola tenha sido capaz - depois de muitos anos e falsos começos, e tirando dinheiro do próprio bolso, claro - de criar um filme tão desavergonhado em sua autoralidade, tão inflexível em seu sentimentalismo de artista no terceiro ato da vida e da carreira, já familiarizado o bastante com as próprias obsessões para tirar sarro delas sem deixar de abraçá-las, é um pequeno milagre. Só Coppola poderia ter feito ‘Megalópolis’ em 2024, e só o Coppola de 2024 poderia ter feito ‘Megalópolis’”.
O que eu achei: Não gostar de um filme de Francis Ford Coppola chega a doer no coração, mas esse "Megalópolis" (2024) foi muito frustrante de assistir. Não que eu já não soubesse que a crítica especializada estava bastante dividida. As notas que aparecem nos sites especializados variam de 2 (fraco, ruim) a 5 (obra-prima). Então eu não sabia o que esperar desse longa financiado pelo próprio Coppola que vendeu parte de um vinhedo para bancar sozinho o projeto que ele não conseguiu vender pra ninguém. Conta-se que desde 1983 ele vinha fazendo anotações de ideias para esse filme. Ele envolve arquitetura, história de Roma (tem inúmeras citações de personagens romanos), negociatas de poder... é um filme que fala de utopias e distopias, do controle da mídia, de política antiga e atual, do tempo que passa e você não controla... enfim, é tanto assunto que mesmo durando 2h18m não é possível se aprofundar em nada. Ele devia ter tantas anotações acumuladas ao longo dos anos que muita coisa ficou solta e/ou datada. O próprio conceito de 'megalópolis', título do filme, não é desenvolvido na trama. Tudo se resume a frases de impacto. No elenco há nomes de peso como Jon Voight, Dustin Hoffman e Laurence Fishburne. Adam Driver é o protagonista, mas quem brilha mesmo é Giancarlo Esposito. Porém todos esses atores parecem perdidos nesse roteiro que não sabe pra onde ir. Entre os pontos negativos e positivos que as cenas entregam, o filme termina com muito mais pontos negativos, restando, de positivo, apenas aquilo que se encontra fora do filme, ou seja, ver um cineasta do alto dos seus 86 anos insistindo no seu próprio sonho, bancando um projeto autoral não comercial. Alguns críticos acreditam que talvez, se o filme fosse reeditado, ele poderia ganhar coesão e ser salvo mas, enquanto isso não ocorre, não há muito o que fazer a não ser terminar a experiência com um gosto amargo na boca.