30.6.25

“Kaos” - Paolo Taviani & Vittorio Taviani (Itália/França, 1984)

Sinopse:
Cinco histórias situadas na região da Sicília do século XIX: Em "O Outro Filho", uma mãe passa a vida esperando notícias de seus dois filhos que foram morar nos EUA. No "Mal da Lua" uma mulher recém-casada descobre que seu marido muda de comportamento toda lua cheia. Na comédia "O Vaso" um rico fazendeiro contrata um artesão para consertar seu imenso vaso de azeite, mas o homem acaba preso dentro do tonel. “Réquiem" conta a história de camponeses que lutam contra o dono da terra para ter o direito a enterrar seus mortos no local. Em "Colóquio com a Mãe", um escritor retorna à casa de sua mãe para conversar sobre uma história que sempre quis escrever mas nunca conseguiu pôr as ideias no papel.
Comentário: Trata-se do filme número 77 da lista dos 100 essenciais elaborada pela Revista Bravo! em 2007. A matéria diz: “A singularidade dos Irmãos Taviani (Paolo e Vittorio) já era uma marca desde o documentário ‘A Itália Não é Um País Pobre’, longa que marcou a estreia da dupla em 1960. A trajetória dos Taviani se insere no registro do cinema político italiano, gênero constante ao longo das décadas de 1960 e 1970. Com o declínio dos temas e das questões que fizeram a fama do gênero, os filmes da dupla migraram para um registro mais poético, sem nunca esquecer uma atenção especial às injustiças sociais. A busca de uma grife literária torna-se mais consistente a partir de ‘Pai Patrão’ (de 1977, adaptação de um romance do italiano Gavino Ledda) e de ‘Kaos’ (que reúne histórias extraídas de contos de Luigi Pirandello). Em seguida, firma-se corno referência de qualidade e respeito aos textos originalmente literários, com ‘Noites com Sol’ (de 1990, que adapta uma história de Tolstói), ‘As Afinidades Eletivas’ (de 1996, com base no romance homônimo de Goethe), ‘Tu Ridi’ (de 1998, nova adaptação de urna obra de Pirandello) e numa versão feita para a TV italiana em 2001 de ‘Ressurreição’, de Tolstói. ‘Kaos’ consiste em quatro histórias e um epílogo, todos ambientados na Sicília, no fim do século 19. Em ‘O Outro Filho’, uma mãe aguarda notícias de seus filhos que emigraram para a América e ignora a existência de um terceiro, fruto de um estupro. Em ‘O Mal da Lua’, uma moça do campo recém-casada descobre que seu marido fica louco a cada temporada de lua cheia. ‘O Vaso’ conta a história de um proprietário que contrata um artesão para consertar um enorme vaso, mas acaba caindo dentro dele. ‘Réquiem’ narra as ações de habitantes de um vilarejo para ter o direito de enterrar seus mortos, e ‘Colóquio com a Mãe’ encena uma conversa entre o próprio autor, Pirandello, e sua mãe. Dois elementos dão unidade ao conjunto: a fotografia, que captura a beleza da natureza em suas mínimas nuances, e a ironia, elemento marcante do estilo de Pirandello e que os Taviani conseguem preservar nesse trabalho de transcrição em imagens. O título, apesar de ecoar significados do termo que designa bagunça, confusão, de fato é uma derivação da palavra ‘Cavusu’, nome de uma floresta próxima à aldeia onde Pirandello nasceu e modo de os Taviani homenagearem a fonte de sua inspiração”.
O que eu achei: Foi uma grata surpresa assistir “Kaos” dos irmãos italianos Paolo e Vittorio Taviani, de quem, até hoje, eu só havia assistido o excelente “Pai Patrão” (1977) que conta a história do escritor italiano Gavino Ledda que foi arrancado da escola pelo pai autoritário, passando a infância como pastor de ovelhas para só retornar aos estudos em idade adulta. Este “Kaos” (1984) é uma adaptação de cinco contos de Luigi Pirandello: "O Outro Filho", "O Mal da Lua", "O Vaso", "Réquiem" e o epílogo "Colóquio com a Mãe”. Luigi Pirandello (1867-1936), também italiano, nasceu em Càvusu, um subúrbio pobre de Girgenti, no sul da Sicília. A palavra Càvusu deriva do antigo vocábulo grego Kàos, de onde saiu o título do filme. Pirandello foi um grande dramaturgo, poeta e romancista. Ele é reconhecido por ter renovado o teatro com originalidade e chegou a ganhar o Nobel de Literatura. Os contos são muito bem filmados, tudo ajuda: os contos em si, as locações, a fotografia, o elenco com  atores em boa parte moradores locais extremamente bem dirigidos. Ao final o epílogo coroa de forma arrebatadora o filme, fazendo Pirandello virar um personagem que volta à sua cidade natal para conversar com a mãe morta em sua casa de infância vazia. Dentre os diálogos a mãe de Pirandello lhe pede para ele não se abater tanto com a morte dela, mas sim procurar lembrar dela viva em seus tempos áureos, ao que ele responde: "Choro por outra coisa, mãe. Choro porque você não pode mais pensar em mim. Agora que você está morta e não pensa mais em mim, eu é que não estou mais vivo para você e nunca mais estarei". É um filme que compensa as 3h06m de duração, até porquê é possível assistir às 5 histórias separadamente. Imperdível.