
Comentário: Alfred Hitchcock (1899-1980) foi um diretor e produtor cinematográfico britânico. Amplamente considerado um dos mais reverenciados e influentes cineastas de todos os tempos, Hitchcock foi eleito pelo The Telegraph o maior diretor da história da Grã-Bretanha e, pela Entertainment Weekly, o maior do cinema mundial. Conhecido como "Mestre do Suspense", dirigiu em torno de 53 longas-metragens ao longo de seis décadas de carreira, parte dela na Inglaterra, parte nos EUA. Tornou-se também famoso também por conta das frequentes aparições em seus filmes e pela apresentação do programa "Alfred Hitchcock Presents" (1955-1965). Assisti dele os seguintes filmes:
- as obras-primas: "Os Pássaros" (1936), "Festim Diabólico" (1948), "Janela Indiscreta" (1954), "Um Corpo Que Cai" (1958) e "Psicose" (1960);
- os ótimos: "O Inquilino" (1927), "Chantagem e Confissão" (1929), "Sabotagem" (1936), "Jovem e Inocente" (1937), "A Dama Oculta" (1938), “Rebecca, a Mulher Inesquecível” (1940), "A Sombra de Uma Dúvida" (1943), "Interlúdio" (1946), "Pacto Sinistro" (1951), "Disque M para Matar" (1954), "O Homem Que Sabia Demais" (1956), “Intriga Internacional” (1959) e "Frenesi" (1972);
- os bons: "Decadência" (1927), "O Ringue" (1927), "Jogo Sujo" (1931), "Os 39 Degraus" (1935), "O Agente Secreto" (1936), "A Estalagem Maldita" (1939), "Correspondente Estrangeiro" (1940), "Pavor nos Bastidores" (1950), "A Tortura do Silêncio" (1953), "O Terceiro Tiro" (1955), "Ladrão de Casaca" (1955), "O Homem Errado" (1956), "Marnie, Confissões de Uma Ladra" (1964) e "Trama Macabra" (1976);
- e os não tão interessantes: “O Jardim dos Prazeres” (1925), "Número 17" (1932), "O Homem Que Sabia Demais" (1934) e “Sob o Signo de Capricórnio” (1949).
Desta vez vou conferir "Vida Fácil" (1928).
“Easy Virtue”, traduzido em português oras como “Vida Fácil”, oras como “Vida Alegre”, oras como “Mulher Pública”, possui seu roteiro baseado em uma peça de 1926 de Noel Coward cuja adaptação para o cinema foi feita pelo próprio escritor juntamente com Eliot Stannard. O filme é mudo e P&B.
Marcelo Lyra do site Cinema Escrito nos conta que “Vida Fácil’ forma com ‘O Ringue’ (1927) e ‘O Ilhéu’ (1929) uma trilogia sobre a traição. Enquanto ‘O Ringue’ mostra a traição movida pelo desejo, e ‘O Ilhéu’ uma traição não proposital, causada pela chegada da notícia (posteriormente desmentida) de que o noivo da moça morreu, ‘Vida Fácil’ tem como foco as consequências de uma traição que na verdade não ocorreu. (...)
Em termos sociais ‘Vida Fácil’ é um filme muito moderno pois, em pleno 1928, mostra o ponto de vista da mulher vítima da sociedade machista. O julgamento é implacável e tudo é dirigido por Hitchcock de modo que o espectador sinta na pele a angustiante injustiça que ela sofre. (...)
‘Vida Fácil’ é uma das mais gratas surpresas do período mudo do diretor. Um filme pouco estudado, subestimado e repleto de situações que ele voltaria a trabalhar no futuro. (...) A situação da mulher de alta sociedade envolvida em escândalos que se depara com uma família conservadora e caipira, onde há outra mulher preferida pela família do homem, reapareceria em ‘Os Pássaros’ (1963).
Infelizmente ‘Vida Fácil’ foi um fracasso de público e acabou se tornando o último filme de Hitchcock para a Gainsborough de Michael Balcon, o produtor que o descobriu para o cinema. O filme seguinte, ‘O Ringue’ já seria produzido pela British Internacional Pictures (BIP), estúdio com modernas instalações e no qual o diretor teria total liberdade criativa. Além de rejeitado pelo público, nunca teve boa acolhida pela crítica, muito pela avaliação equivocada dos críticos da Cahiers du Cinéma. A situação permanece até hoje. Uma injustiça, pois é um filme inteligente, com grandes momentos, digno de merecer uma revisão que o coloque num lugar bem melhor na obra do diretor.
Por último, não se pode falar em ‘Vida Fácil’ sem destacar a atuação segura de Isabel Jeans. Ela já havia aparecido antes como a mulher fatal que se casa com o protagonista de ‘Decadência’, mas aqui seu talento brilha, seja nos momentos em que está depressiva, durante os julgamentos, passando pela breve felicidade do namoro e a altivez com que encara tanto a família do marido quanto o segundo julgamento. Seu talento, somado ao de Hitchcock, são a espinha dorsal deste excelente filme”.
Uma curiosidade: em 2008 o diretor Stephan Elliott lançou uma refilmagem de “Vida Fácil” com o título “Bons Costumes”.
O que disse a crítica 1: O site da Equipe Film4 não gostou. Escreveram que “O problema é que o filme é mudo e o diálogo de Coward - mesmo em uma peça menor - é indispensável”.
O que disse a crítica 2: Emanuel Levy avaliou o filme positivamente em seu site. Disse: “Este filme inicial não tem o brilhantismo técnico dos filmes (...) posteriores de Hitchcock, mas revela seu interesse consistente nos efeitos destrutivos da vida familiar, no caráter dominante das matriarcas e na importância do amor como uma força potencialmente redentora. Em termos de tema e localização, ‘Vida Fácil’ está ligado ao filme posterior e polido ‘Ladrão de Casaca’ (1954), com Cary Grant e Grace Kelly, que também se passa na Riviera Francesa e apresenta uma crítica ao estilo de vida ocioso e moralmente vazio dos novos ricos. Como uma heroína de má reputação, Larita é uma antecessora da personagem que Ingrid Bergman interpreta em ‘Interlúdio’, de 1946, embora este último seja um filme melhor e mais significativo em vários níveis. No entanto, em ambos os casos, Hitchcock pede que os espectadores tenham uma atitude sem julgamentos, até mesmo empatia, pela heroína”.
O que eu achei: “Easy Virtue” (1928), traduzido em português oras como “Vida Fácil”, oras como “Vida Alegre”, oras como “Mulher Pública”, só possui uma versão restaurada na França feita a partir de um rolo de filme de 16mm com as legendas dos intertítulos em francês. O resto que a gente encontra pra assistir – há diversas opções no Youtube – são todas piratas e nenhuma com legendas em português, então não espere encontrar nada com muito boa qualidade. O filme conta a história de uma mulher casada da alta sociedade cujo marido contrata um pintor para fazer um retrato seu. Ocorre que o pintor se apaixona por ela e o marido, enciumado, acredita que ela esteja correspondendo a esse amor. Esse mal entendido leva o casal a se separar e ela, difamada, acaba indo morar no Mediterrâneo onde tenta recomeçar sua vida, porém essa difamação chega até a localidade através da mídia. “Easy Virtue” é uma expressão que significa prostituta ou “mulher de vida fácil” então todas essas tentativas de traduções para o português visam encontrar palavras que possam representar essa mulher de má reputação. O filme é mudo, possui tomadas bastante criativas, já apresenta algumas características do que viria se tornar a marca registrada de Hitchcock, mas acaba abruptamente como tantos outros desse período. Por ser baseado numa peça de Noel Coward, o fato dele ser mudo acaba atrapalhando pois os intertítulos não dão conta de tanto texto. Não é o melhor filme do mestre do suspense, mas ainda assim é bom e mereceria uma restauração com legendas em outras línguas. Vale ver.
Marcelo Lyra do site Cinema Escrito nos conta que “Vida Fácil’ forma com ‘O Ringue’ (1927) e ‘O Ilhéu’ (1929) uma trilogia sobre a traição. Enquanto ‘O Ringue’ mostra a traição movida pelo desejo, e ‘O Ilhéu’ uma traição não proposital, causada pela chegada da notícia (posteriormente desmentida) de que o noivo da moça morreu, ‘Vida Fácil’ tem como foco as consequências de uma traição que na verdade não ocorreu. (...)
Em termos sociais ‘Vida Fácil’ é um filme muito moderno pois, em pleno 1928, mostra o ponto de vista da mulher vítima da sociedade machista. O julgamento é implacável e tudo é dirigido por Hitchcock de modo que o espectador sinta na pele a angustiante injustiça que ela sofre. (...)
‘Vida Fácil’ é uma das mais gratas surpresas do período mudo do diretor. Um filme pouco estudado, subestimado e repleto de situações que ele voltaria a trabalhar no futuro. (...) A situação da mulher de alta sociedade envolvida em escândalos que se depara com uma família conservadora e caipira, onde há outra mulher preferida pela família do homem, reapareceria em ‘Os Pássaros’ (1963).
Infelizmente ‘Vida Fácil’ foi um fracasso de público e acabou se tornando o último filme de Hitchcock para a Gainsborough de Michael Balcon, o produtor que o descobriu para o cinema. O filme seguinte, ‘O Ringue’ já seria produzido pela British Internacional Pictures (BIP), estúdio com modernas instalações e no qual o diretor teria total liberdade criativa. Além de rejeitado pelo público, nunca teve boa acolhida pela crítica, muito pela avaliação equivocada dos críticos da Cahiers du Cinéma. A situação permanece até hoje. Uma injustiça, pois é um filme inteligente, com grandes momentos, digno de merecer uma revisão que o coloque num lugar bem melhor na obra do diretor.
Por último, não se pode falar em ‘Vida Fácil’ sem destacar a atuação segura de Isabel Jeans. Ela já havia aparecido antes como a mulher fatal que se casa com o protagonista de ‘Decadência’, mas aqui seu talento brilha, seja nos momentos em que está depressiva, durante os julgamentos, passando pela breve felicidade do namoro e a altivez com que encara tanto a família do marido quanto o segundo julgamento. Seu talento, somado ao de Hitchcock, são a espinha dorsal deste excelente filme”.
Uma curiosidade: em 2008 o diretor Stephan Elliott lançou uma refilmagem de “Vida Fácil” com o título “Bons Costumes”.
O que disse a crítica 1: O site da Equipe Film4 não gostou. Escreveram que “O problema é que o filme é mudo e o diálogo de Coward - mesmo em uma peça menor - é indispensável”.
O que disse a crítica 2: Emanuel Levy avaliou o filme positivamente em seu site. Disse: “Este filme inicial não tem o brilhantismo técnico dos filmes (...) posteriores de Hitchcock, mas revela seu interesse consistente nos efeitos destrutivos da vida familiar, no caráter dominante das matriarcas e na importância do amor como uma força potencialmente redentora. Em termos de tema e localização, ‘Vida Fácil’ está ligado ao filme posterior e polido ‘Ladrão de Casaca’ (1954), com Cary Grant e Grace Kelly, que também se passa na Riviera Francesa e apresenta uma crítica ao estilo de vida ocioso e moralmente vazio dos novos ricos. Como uma heroína de má reputação, Larita é uma antecessora da personagem que Ingrid Bergman interpreta em ‘Interlúdio’, de 1946, embora este último seja um filme melhor e mais significativo em vários níveis. No entanto, em ambos os casos, Hitchcock pede que os espectadores tenham uma atitude sem julgamentos, até mesmo empatia, pela heroína”.
O que eu achei: “Easy Virtue” (1928), traduzido em português oras como “Vida Fácil”, oras como “Vida Alegre”, oras como “Mulher Pública”, só possui uma versão restaurada na França feita a partir de um rolo de filme de 16mm com as legendas dos intertítulos em francês. O resto que a gente encontra pra assistir – há diversas opções no Youtube – são todas piratas e nenhuma com legendas em português, então não espere encontrar nada com muito boa qualidade. O filme conta a história de uma mulher casada da alta sociedade cujo marido contrata um pintor para fazer um retrato seu. Ocorre que o pintor se apaixona por ela e o marido, enciumado, acredita que ela esteja correspondendo a esse amor. Esse mal entendido leva o casal a se separar e ela, difamada, acaba indo morar no Mediterrâneo onde tenta recomeçar sua vida, porém essa difamação chega até a localidade através da mídia. “Easy Virtue” é uma expressão que significa prostituta ou “mulher de vida fácil” então todas essas tentativas de traduções para o português visam encontrar palavras que possam representar essa mulher de má reputação. O filme é mudo, possui tomadas bastante criativas, já apresenta algumas características do que viria se tornar a marca registrada de Hitchcock, mas acaba abruptamente como tantos outros desse período. Por ser baseado numa peça de Noel Coward, o fato dele ser mudo acaba atrapalhando pois os intertítulos não dão conta de tanto texto. Não é o melhor filme do mestre do suspense, mas ainda assim é bom e mereceria uma restauração com legendas em outras línguas. Vale ver.