17.11.24

“Réquiem Para Um Sonho” – Darren Aronofsky (EUA, 2000)

Sinopse:
 
Enquanto o filho Harry (Jared Leto) lida com sua própria batalha contra as drogas, Sara (Ellen Burstyn) é convidada para participar de seu programa de TV favorito. Para poder usar o vestido preferido, ela começa a tomar pílulas para emagrecer e fica viciada.
Comentário: Darren Aronofsky (1969) é um cineasta, roteirista, produtor cinematográfico e ambientalista americano. Assisti 5 filmes dele: a obra-prima "Mãe!" (2017), os excelentes "O Lutador" (2008) e "Cisne Negro" (2010), o bom “A Baleia” (2022) e o péssimo "Noé" (2014). 
Desta vez vou conferir “Réquiem Para Um Sonho” (2000). O filme é uma adaptação do romance homônimo de Hubert Selby Jr, originalmente lançado em 1978.
Gabriel Zorzetto, que leu o livro, escreveu uma resenha para o site O Globo contando que “O ‘réquiem’ mencionado no título é um termo da Igreja Católica que se refere à prece destinada aos mortos, o que já indica o que está por vir: um drama trágico sobre o vício em drogas, sejam elas legais ou ilegais”.
Segundo ele é “através da deterioração gradual de quatro personagens, [que] revela-se o lado obscuro do ‘sonho americano’”. Esse escritor Hubert Selby Jr (1928-2004), segundo ele, “era a voz dos oprimidos na caótica Nova York dos anos 1970 e expôs a natureza da dependência química como poucos autores conseguiram. Inspirado em experiências pessoais com o vício, analisou a condição humana em sua mais frágil essência e concebeu um retrato impactante sobre o tema, que serviu como prenúncio à crise de saúde que assolaria os Estados Unidos no século XXI (...).
O enredo guia o leitor pela vida de quatro figuras. Harry e Marion estão apaixonados e querem abrir seu próprio negócio. Um amigo deles, Tyrone, quer escapar da vida no gueto. Para realizar esses sonhos, eles compram uma grande quantidade de heroína, planejando enriquecer com a venda, mas acabam mergulhando no devastador submundo da dependência. Enquanto isso, Sara - a solitária mãe viúva de Harry - sonha em aparecer na televisão. Quando um telefonema de uma empresa responsável pela seleção de um game show lhe dá esperanças, ela vai ao médico, que lhe prescreve pílulas (anfetaminas) para perder peso. Ela passa os meses seguintes tomando os comprimidos, mas também se torna viciada.
Para eles, as drogas gradualmente tomam o lugar de todo o resto: do sexo, da comida, das aspirações e até mesmo do impulso diário de viver. Elas se tornam as únicas fontes de dor e prazer. Isso propicia ao autor criar um cenário cujas fantasias dos personagens são embaralhadas com a realidade, gerando até a ilusão de que as perspectivas melhoraram quando, na verdade, não progrediram em nada”.
Sobre o filme ele nos conta que “A complexidade [do livro] chamou a atenção do cineasta Darren Aronofsky, que adaptou o texto de Selby, com a ajuda do próprio, para o premiado filme lançado em 2000 - estrelado por Jared Leto, Ellen Burstyn (indicada ao Oscar pelo papel), Jennifer Connelly e Marlon Wayans.
Considerado um clássico cult, o longa-metragem recebeu recentemente um tratamento de luxo, em alta definição, pelo selo Obras-Primas do Cinema, com a Europa Filmes, o que apenas evidenciou a relação de simbiose com o livro, estabelecendo um elo fundamental para a imergir no desconfortável universo descrito por Selby e projetado por Aronofsky. O diretor, inclusive, assina o prólogo desta edição que agora chega ao país, revelando a influência da obra de Selby em sua vida”.
O que disse a crítica: Rafael W. Oliveira avaliou com 4,5 estrelas, ou seja, excelente. Escreveu: “Aronofsky disseca não apenas o vício pelas drogas, mas todo e qualquer apego irracional que tornam as pessoas seres completamente dependentes daquilo, permitindo que se tornem figuras inertes, entregues à solidão e ao apego da vida moderna. Com coragem e ousadia, Aronofsky acompanha esta degradação de maneira arriscada e condenável para alguns (os inúmeros recursos estilísticos, sem dúvidas, irão incomodar os mais sensíveis), mas que atinge seu objetivo com êxito, e ao final, resta apara o espectador ter que lidar com a sensação de exaustão e as imagens fortes concebidas pelo diretor”.
O site Cinema com Rapadura avaliou com 5 estrelas, ou seja, obra-prima. Disse: “A obra de Aronofsky vive no submundo, no inferno que é a vida de um viciado. A calma e a tranquilidade de um dia fatídico vai se degradando a cada frame. Os sonhos vão sendo desconstruídos, e quando nos damos conta, tudo já foi por água abaixo. Não adianta mais reclamar. Não adianta mais chorar. A morte, o desespero e a solidão já se apoderaram de nós. Triste, muito triste. Mas também, muito verdadeiro e pungente. Esqueça tudo que você já viu sobre a vida fazer sentido, ser justa e que no fim sempre termina bem”.
O que eu achei: Eu já havia assistido este filme há alguns anos, mas como não lembrava de muita coisa, resolvi rever. O cinema de Aronofsky quase sempre me cativa. "O Lutador" (2008) e "Cisne Negro" (2010) eu achei excelentes, "Mãe!" (2017) – que dividiu as pessoas entre o amor e o ódio – eu achei uma obra-prima e “A Baleia” (2022), que foi o mais recente que vi dele, achei bom. Então, tirando o sofrível "Noé" (2014), o restante sempre acaba me agradando por um motivo ou por outro. Agora revendo “Réquiem Para Um Sonho” (2000), eu reafirmo meu apreço pela sua forma de contar histórias. A trama começa mostrando uma mulher de meia idade, viúva, que não tem grandes objetivos na vida a não ser comer, dormir, ver televisão e conversar com as vizinhas, lidando com seu jovem filho Harry, viciado em drogas. Ele vende seu bem mais precioso, a tv, para poder comprar mais entorpecentes. E ela, não pela primeira vez, vai até a loja de usados comprar a tv de volta. Um belo dia, ela recebe um telefonema de uma emissora de tv para participar de um game show. Animada com o convite ela resolve procurar um médico e tomar remédios para emagrecer a fim de caber no seu melhor vestido e é aí que o filme se transforma visualmente com todos os personagens principais drogados: Harry, sua namorada Marion e seu amigo Tyrone alterados pelo consumo de drogas ilícitas enquanto Sara, a mãe, está cada vez mais alterada pelo consumo de drogas lícitas. Explorando inúmeros recursos estilísticos, o filme agora será mostrado pelos olhos deles, usando e abusando de muita lente grande-angular, imagens alteradas em sua velocidade e telas criativamente divididas em duas imagens simultâneas, até chegarmos junto com os personagens ao fundo do poço. Todos na busca da tão sonhada felicidade. É um filme que vai agradar a todos? Creio que não mas, para mim, é outro gol de placa do diretor.