7.10.24

“Bob Marley: One Love” - Reinaldo Marcus Green (EUA, 2024)

Sinopse:
 Cinebiografia de Bob Marley (Quan-Dajai Henriques e Kingsley Ben-Adir), ícone do reggae que pregava a paz, o amor e a fé rastafári. O filme relembra os importantes feitos do cantor para seu país, a Jamaica, assim como as dificuldades que sua família e conhecidos passaram. Com o reggae, ele ultrapassou fronteiras e seu sucesso foi imenso. Mas mesmo famoso, a violência em seu país era uma realidade, chegando até Marley e sua esposa (Lashana Lynch). Após um atentado, eles saem do país, mas no ano seguinte o cantor icônico decide voltar para a Jamaica.
Comentário: Reinaldo Marcus Green (1981) é um diretor, produtor e escritor de cinema americano. Dentre suas produções estão “Monsters and Men” (2018) e “Joe Bell: Você Nunca Andará Sozinho” (2020). Assisti dele apenas um filme chamado “King Richard: Criando Campeãs” (2021) sobre as lendas do tênis Venus e Serena Williams, indicado ao Oscar de Melhor Filme. Desta vez vou conferir “Bob Marley: One Love” (2024), uma cinebiografia sobre o famoso cantor jamaicano Bob Marley.
Para entender um pouco mais o contexto histórico em que Marley viveu, vale relembrar que a Jamaica é uma ilha no Caribe que primeiro foi dominada por espanhóis e, posteriormente, passou ao domínio britânico, tornando-se independente apenas em 1962.
Marley nasceu em 1945, numa vila chamada Nine Mile, em Saint Ann, zona rural do norte da Jamaica. Ele era filho de um militar jamaicano branco, capitão do exército inglês, e de uma jovem negra jamaicana. Sua mãe Celella Booker deu a luz com apenas 18 anos após ter se envolvido com o britânico de mais de 50 anos, que passou a ajudar financeiramente no sustento do filho, mas que não era um pai presente. Após a morte do pai, em 1955, Marley e sua mãe foram morar em Trenchtown, uma comunidade ao sul de Kingston. Lá, Bob sofreu discriminação por ser fruto de uma relação entre uma negra e um branco, sendo assim "pardo", fato que não era bem visto pelos negros daquela época e lugar.
Considerando que Bob Marley viveu de 1945 até 1981, ele pegou todo esse período de transição de um país colônia para um país independente, estando com 17 anos quando o país conseguiu a tão sonhada independência.
Por conta dessa dominação europeia (espanhola e inglesa), assim como ocorreu no Brasil, um grande número de negros foi sequestrado da África e levado até essa ilha para trabalhar como escravo. A religião rastafári - que Marley abraçou aos 22 anos de idade - surgiu justamente por conta de uma crença de que um poderoso rei na África promoveria a libertação dos negros. Ocorre que a Etiópia tinha um imperador que ficou no cargo de 1930 até 1974, chamado Hailé Selassié, que os devotos do movimento rastafári julgavam ser o messias retornado da Bíblia, o Deus encarnado. No filme Bob Marley chega a mencionar esse nome.
Foi com a ascensão de Bob Marley ao estrelato que a mensagem dos rastafáris ganhou palco mundial. Sua obra tratava desses temas espirituais e também abraçava discursos político-sociais, sendo considerado um símbolo de resistência negra, de defesa dos direitos humanos e de luta por justiça social. Suas músicas denunciavam o racismo, a desigualdade social, o colonialismo e a guerra.
O filme basicamente concentra sua narrativa de 1976 a 1979 com Marley já famoso, intercalando esse período com cenas da sua infância e da sua juventude.
Em 1976 a Jamaica enfrentava seu maior momento de violência desde a sua independência. Semanas antes das eleições ocorria uma grande disputa de poder entre os partidos Jamaica Labour Party (JLP) e o People’s National Party (PNP) e o país estava à beira de uma guerra civil. Por conta disso, Bob Marley, como uma figura influente que era, tentou promover a paz entre as facções rivais, organizando um show gratuito no Parque dos Heróis Nacionais em Kingston, visando pedir o fim dos conflitos.
Basicamente é aí que o filme começa, mostrando Marley concedendo uma entrevista à imprensa sobre o show “Smile Jamaica” que ele pretende fazer e, logo em seguida, sofrendo um atentado, quando homens armados entraram em sua casa em Hope Road ferindo gravemente sua esposa Rita Marley e seu empresário Dom Taylor, enquanto Marley sofreu feridas leves no peito e no braço, conseguindo, ainda assim, se apresentar para uma multidão de 80 mil pessoas.
A partir desses acontecimentos, o filme segue abordando seu exílio em Londres; o lançamento do disco “Exodus” que permaneceu por mais de 50 semanas nas primeiras posições na Inglaterra; o concerto que ele organizou na Jamaica chamado “One Love Peace Concert”, quando ocorre o famoso aperto de mão, no palco, entre o Primeiro-Ministro Michael Manley e seu rival Edward Seaga; sua ida para o Zimbabwe para as comemorações pela independência do país até seu triste diagnóstico de câncer.
Bob Marley teve nove filhos e filhas com diferentes mulheres e também adotou duas crianças. Ele morreu em Miami, em 1981, com apenas 36 anos. Seu funeral teve honras de chefe de estado e a data de seu nascimento se tornou feriado nacional na Jamaica.
Ao subirem os créditos é possível observar que dentre os produtores do filme constam o nome de seu filho Ziggy Marley e de Brad Pitt.
O que disse a crítica: Julia Sabbaga do site Omelete avaliou o filme com 3 estrelas, ou seja, bom. Ela disse que o filme encontra uma maneira singela de contar sua história e que "nada disso seria convincente sem a performance meticulosa de Kingsley Ben-Adir, que carrega com delicadeza um papel que poderia muito facilmente pesar ao caricato”.
Mario Abbade do site O Globo também gostou. Disse que “apesar de esconder os 'tropeços' do músico, o filme é uma 'grata surpresa'”. Escreveu: “Os roteiristas Terence Winter, Frank E. Flowers e Zach Baylin tiveram a boa sacada de não seguir uma linha cronológica. Eles inserem na narrativa passagens importantes da vida de Bob Marley fora de sequência, que funcionam como peças de um quebra-cabeça que vão se encaixando. O recurso ajuda a aguçar a curiosidade do espectador e cria interesse em entender quem era o homem por trás da genialidade do artista: um pai de família, pacifista, apaixonado por futebol e uma espécie de messias para os jamaicanos”.
O que eu achei: Trata-se de uma homenagem digna que possui uma trilha sonora recheada com seus inúmeros sucessos. A história - que se concentra basicamente nos anos de 1976 a 1979 - dá conta de transmitir quem foi esse ícone do reggae que tanto sucesso fez com sua música transmitindo mensagens de paz e da fé rastafári que ele propagava. Mas quem me chamou muito a atenção foi sua esposa Rita Marley (interpretada lindamente pela atriz inglesa Lashana Lynch): uma mulher determinada, que lhe deu todo o suporte necessário e que o amava a ponto de suportar suas traições e cuidar de seus 11 filhos, alguns dela, outros adotados e outros que ele teve com outras mulheres. Apenas senti falta do longa não explorar que o melanoma que matou Bob Marley poderia ter sido facilmente evitado caso ele tivesse seguido as orientações médicas para amputação de parte do seu pé, cuja ferida no dedo havia infeccionado a partir de um câncer de pele. Essa desobediência por conta de sua religião não é elucidada. No mais é um bom filme que com certeza vai agradar aos fãs.