Sinopse: Grace (Bryce Dallas Howard) é filha de um gângster (Willem Dafoe) e, juntos, eles encontram a fazenda Manderlay. Lá, a escravidão ainda existe, apesar de ter sido abolida há décadas. Revoltada, Grace reprime a dona da fazenda (Lauren Bacall) e liberta os escravos. A dona da fazenda morre e Grace conduz os trabalhadores nas suas tarefas. Porém, com o passar do tempo, vai ficando claro que esses escravos não sabem o que é, nem o que fazer, com essa tal liberdade.
Comentário: Trata-se da segunda parte da trilogia de Lars Von Trier denominada 'EUA - Terra de Oportunidades'. O primeiro filme foi a obra-prima 'Dogville' (2003). Este segundo filme também é narrado na primeira pessoa como se fosse uma fábula e a história também é encenada sobre um palco, como se fosse teatro filmado com uma câmera digital na mão. A protagonista é a mesma personagem Grace de 'Dogville', mas Nicole Kidman foi substituída pela atriz Bryce Dallas Howard. Segundo Paulo Ricardo de Almeida, do site Contracampo, "embora a personagem principal seja a mesma em ambos os filmes, o enfoque de Lars Von Trier e, em consequência, o envolvimento que ele requer do espectador quanto aos acontecimentos na tela são inteiramente diferentes. Em 'Dogville', a princípio, nada se sabe a respeito de Grace, que emerge como a típica heroína melodramática: mulher frágil e sofrida, que enfrenta a população hostil que, depois de a acolher, abusa dela para, finalmente, expulsá-la da cidade a fim de reintroduzir a Ordem. Com 'Manderlay', dá-se o contrário, pois o diretor trabalha justamente a partir da lembrança que a plateia possui do original. Assim, como já se sabe, desde o primeiro plano, do passado de Grace, do que ela é capaz de fazer (assassinar a comunidade que se volta contra ela) e do desejo pelo poder que a move, Von Trier não força a identificação sentimental com a protagonista para, ao final, revelar a verdade cruel, como em 'Dogville', mas antes parte do conhecimento desta verdade a fim de gerar o distanciamento que, afinal, está pressuposto na ausência de cenários, na explícita marcação teatral e na narração irônica. Mesmo que se veicule a recusa de Nicole Kidman em participar da sequência, é inegável a transformação dramática contida na troca da atriz principal, uma vez que, no lugar dos olhos marejados, do nariz vermelho, das bochechas salientes e da fala tímida e entrecortada de Kidman, entra a expressão gélida de Bryce Dallas Howard, cuja frieza e autocontrole levam a crer que as boas intenções expressas em seu discurso são apenas fachada para o imenso prazer que o domínio em 'Manderlay' lhe proporciona". Sensacional.