5.12.10

"Nosferatu" - Friedrich W. Murnau (Alemanha, 1922)

Sinopse: Em 1838, Thomas Hutter (Gustav von Wangenheim), agente imobiliário que mora em Wisborg (referência a cidade atual de Wismar), atravessa os Montes Cárpatos para vender uma casa em sua vizinhança ao proprietário de um castelo no Mar Báltico, o excêntrico conde Graf Orlock (Max Schreck). Orlock é na verdade um milenar vampiro que, buscando por mais sangue, quer se mudar para a Alemanha. Ao chegar na propriedade que comprou, ele traz consigo grande terror e os habitantes acham que estão sendo vítimas da peste. A única que pode salvar as pessoas dos ataques do vampiro é Ellen (Greta Schröder), a esposa de Hutter, visto Orlock se sentir atraído por ela.
Comentário: Trata-se do filme número 61 da lista dos 100 Essenciais elaborada pela Revista Bravo! em 2007. A matéria diz: "Nas artes visuais, o expressionismo surgiu como resposta amarga, no transcorrer da Primeira Guerra Mundial (1914-18), ao lirismo do anterior impressionismo. É também, como diz o termo, a expressão de algo que está por detrás, sobretudo do inconsciente humano. No cinema, foi o alemão Robert Wiene seu precursor, com 'O Gabinete do Dr. Caligari' (1919), no qual apresentava distorções estéticas (sobretudo nos cenários, bastante gráficos com suas casas e ruas tortas). Mas foi Friedrich Wilhelm Murnau quem o levou adiante, dirigindo a obra-prima 'Nosferatu'. O que Wiene mostrava, sobretudo, na geometria dos espaços, Murnau explorava no rosto do vampiro e no jogo de sombras, movimentos de câmera e uso de lentes que deformam e embaçam a imagem. O cineasta, assim, chegava a outra característica expressionista, que é pôr à vista os fantasmas do inconsciente do homem. O diretor adaptou o romance 'Drácula' (1897), do escritor irlandês Bram Stoker, mas, por ter esbarrado nos direitos de adaptação, trocou o nome do personagem. Um pouco por causa disso, o horror de 'Nosferatu' é diferente da mitologia e dos clichês sobre o vampiro que a tradição cinematográfica posterior construiu a partir da obra de Stoker, como os longas estrelados por Christopher Lee nos anos 1950 e 1960, produzidos pela Hammer. No filme de Murnau, o vampiro é o Conde Orlok (Max Schreck), que se apaixona pela imagem da esposa do agente imobiliário que o visita em seu castelo, nos Cárpatos. Num navio carregado de ratos, ele parte em busca de sua amada. Schreck submeteu-se a um extremo trabalho de preparação para o papel a fim de compor uma imagem exótica e assustadora (na época, o filme foi proibido na Suécia tamanho o seu terror), que carrega o drama de destruir aquilo que ama. Esse viés trágico-romântico foi retomado por Francis Ford Coppola em 'Drácula de Bram Stoker' (1992). Nela, o diretor americano fez inúmeras homenagens ao filme de Murnau, como a do navio e a do vampiro levantando-se ereto do caixão. Outro alemão, Werner Herzog, refilmou com fidelidade e espírito romântico o que seria uma referência mais íntima ao longa de 1922, 'Nosferatu, o Vampiro da Noite' (1979), com Klaus Kinski repetindo os dentes afiados e orelhas pontudas da composição de Max Schreck". Ainda sobre a questão dos direitos autorais o problema na obtenção dos direitos se deu por conta dos herdeiros do escritor não terem concedido a Murnau a autorização para realizar este filme. Como, mesmo assim, ele o fez, ele acabou processado e a justiça ordenou que se destruíssem as cópias do filme. Por sorte, algumas delas, entre as muitas que já haviam sido distribuídas um pouco por toda a parte, permaneceram guardadas até a morte da viúva de Bram Stoker, caso contrário a obra estaria perdida. Obra-prima absoluta.