2.5.24

“Pixinguinha, Um Homem Carinhoso” – Denise Saraceni & Allan Fiterman (Brasil, 2021)

Sinopse:
 Cinebiografia do pai da MPB, Alfredo da Rocha Vianna Junior (1897-1973), Pixinguinha (Thawan Lucas, Luan Bonitinho, Danilo Ferreira e Seu Jorge), um gênio incompreendido que estava muito à frente do seu tempo cuja importância só foi reconhecida anos mais tarde.
Comentário: Trata-se da cinebiografia do músico, compositor e arranjador carioca Pixinguinha (1897-1973). Suas composições são de MPB, principalmente dentro do gênero musical conhecido como choro. Há dezenas de choros de sua autoria, dentre eles “Carinhoso”, “Glória”, “Lamentos” e “Um a Zero”. O próprio título do filme “Um Homem Carinhoso”, se refere à essa canção que é a mais famosa de sua autoria. Ela foi composta em 1917, quando ele tinha apenas 20 anos. O filme mostra mais especificamente a vida adulta do Pixinguinha (Seu Jorge), intercalando com momentos dele aos 8 anos (Thawan Lucas), com 13 anos (Luan Bonitinho) e com 25 anos (Danilo Ferreira).
André Bernardo do site BBC Brasil nos conta que “o filme (...) abrange a vida do músico até 1973, quando, na tarde de 17 de fevereiro, morreu na Igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, após sofrer um infarto fulminante. Faltando dois sábados para o Carnaval, Pixinguinha fora convidado para ser padrinho de batismo do filho de um amigo. Do lado de fora da igreja, quando soube da morte do compositor, a Banda de Ipanema, em ensaio pré-carnavalesco, começou a tocar ‘Carinhoso’ em sua homenagem”.
Segundo Bernardo, “Em ‘Pixinguinha - Um Homem Carinhoso’, escrito por Manuela Dias e dirigido por Denise Saraceni (...). Se interpretar um dos maiores nomes da Música Popular Brasileira não [é] nada fácil, transpor sua biografia para o cinema não fica atrás. O produtor Carlos Moletta levou 15 anos para realizar o sonho de contar a história de Pixinguinha. Houve uma primeira tentativa de filmagem em 2013, por ocasião do aniversário de 40 anos da morte do compositor, mas o projeto não saiu do papel. Em 2016, a diretora Denise Saraceni convidou a roteirista Manuela Dias para condensar o material existente e, a partir dele, escrever um novo roteiro. Foi Dias, aliás, quem sugeriu o nome de Seu Jorge para o papel principal. Argumentou que, para interpretar um gênio da música, não podia ser apenas um ator, precisava ser alguém do ramo. Durante a captação de recursos, Saraceni chegou a ouvir de investidores que não podiam patrocinar um filme sobre um alcoólatra. ‘A história desse filme dá uma novela’, suspira a diretora. (...). O alcoolismo do personagem é abordado em sua mais famosa biografia: ‘Pixinguinha - Vida e Obra’ (1978), de Sérgio Cabral. ‘Pixinguinha viveu uma fase difícil na primeira metade da década de 1940’, escreve o jornalista e escritor. ‘Trabalhando pouco e gastando muito com o álcool, começou a atrasar o pagamento das prestações’, completa, referindo-se à casa que Pixinguinha comprou em Ramos, em 1939. Boêmio, o músico chegou a ter mesa cativa no Bar Gouveia, no Centro do Rio, que frequentava de segunda à sexta, das 10h às 13h. Quem também faz parte do elenco de ‘Pixinguinha - Um Homem Carinhoso’ é Taís Araújo. A atriz dá vida a Albertina Nunes Pereira, a Betty - pronuncia-se Betí. Ela e Pixinguinha se conheceram em 1926 e viveram juntos até a morte dela, em 7 de junho de 1972, aos 73 anos”.
Sobre o nome Pixinguinha, ele “nasceu da fusão de dois apelidos de infância: ‘Pizidin’, dado por uma prima, Eurídice, que significa ‘menino bom’, e ‘Bexiguinha’, o nome popular da varíola”.
O que disse a crítica: Naief Haddad da Folha SP avaliou com 1 estrela, ou seja, sofrível. Escreveu: “é provável que o filme decepcione quem espera um mergulho na obra de Pixinguinha. As interpretações de choros, sambas e maxixes aparecem em trechos curtos, e pouco se fala sobre o contexto cultural e o processo de criação de composições que se tornaram clássicos da música popular brasileira. O fato é que ‘Pixinguinha’ dedica mais atenção às questões pessoais do que à trajetória musical. Okay, é uma opção legítima, que poderia ter dado certo. (...) mas [como os episódios da vida dele são mostrados] num tom açucarado, que logo abafa as tensões, as ambivalências dos personagens se diluem nessa toada quase sempre festiva, que resulta artificial”.
Vinícius Volcof do site Cinema com Rapadura avaliou com 4 estrelas, ou seja, excelente. Disse: “A produção Globo Filmes e Ypearts tem evidentes limitações em reconstituir o período de época da história, dando ao filme um aspecto de novela das seis. Geralmente produções brasileiras pecam por essa deficiência de ambientação em tramas de época, o que parece ser causado por restrições orçamentárias. Isso, porém, não atrapalha a história, e para quem mora no Rio e conhece a região central da cidade, são várias as locações em conhecidos pontos da boemia carioca. Nada mais justo para um homem que era, de certa forma, uma figura das ruas. (...) Sua obra é (...) eterna, um patrimônio brasileiro que merecia um filme registrando sua história para a posteridade. Desta forma, nada seria melhor do que ter um grande artista brasileiro [Seu Jorge] para representá-lo”.
O que eu achei: Claro que uma cinebiografia sobre o Pixinguinha é sempre bem-vinda, mas apesar do filme ter alguns acertos – tem Seu Jorge no papel principal, tem vários trechos com músicas lindíssimas compostas ou arranjadas por ele, nos mostra como foi sua vida e carreira – a forma como o filme foi construído não ajuda muito. A pegada do filme, conforme já foi dito na crítica especializada, é de uma novela das seis – a corroteirista do filme é a Manuela Dias, autora da novela “Amor de Mãe” (2019-2021) e roteirista de séries como “Sandy & Junior” (2002) e “Xuxa e as Noviças” (2008) dentre outros – então essa escolha já deu o tom do filme. Outro problema é a fotografia que resolveu usar e abusar dos brancos estourados que formam aquela névoa repetitiva e cansativa em boa parte da película. Marcelo Müller do site Papo de Cinema resumiu: “Parece que estamos diante de uma produção televisiva que contou com uma boa pesquisa de época, mas que não foi bem-sucedida ao tentar tornar esse universo absolutamente crível. E o artificialismo, sempre ele, aparece em outros vários departamentos, se impondo como um efeito colateral involuntário”. Não há palavras mais precisas para descrever o que é mostrado. Que uma figura como Pixinguinha merecia uma cinebiografia, com certeza merecia, até demorou, mas poderia ter sido bem melhor.