7.3.11

"Rastros de Ódio" - John Ford (EUA, 1956)

Sinopse: Em 1868, o veterano ex-oficial confederado Ethan Edwards (John Wayne) retorna da Guerra Civil Americana e vai para o rancho de seu irmão na zona rural do Texas. Pouco tempo depois de sua chegada, os comanches matam seu irmão, sua cunhada e seu sobrinho e raptam as duas filhas, uma delas ainda menina. Com a ajuda do filho adotivo de seu irmão, Martin Pawley (Jeffrey Hunter), que é mestiço índio, Ethan, que odeia todos os ameríndios, começa a perseguir os comanches para resgatar as sobrinhas.
Comentário: O filme está na posição 10 da lista dos Filmes Essenciais elaborada pela Revista Bravo! em 2007. A matéria diz: "O cineasta Jean-Luc Godard, antes de rodar sua obra-prima 'Acossado' em 1959, chorou no cinema. Ele assistia 'Rastros de Ódio', de John Ford. E foi a atuação de John Wayne que havia emocionado aquele jovem redator da revista francesa Cahiers du Cinéma. Assim como vários outros críticos de cinema do mundo, que nos anos seguintes elegeriam este como um dos maiores faroestes já feitos. 'Rastros de Ódio' mostra a desgraça de Ethan Edwards (Wayne), sulista que retorna da Guerra da Secessão, destroçado, e tem, dias depois, sua família dizimada por uma tribo comanche, incluindo sua cunhada, Martha, que é o grande amor da sua vida. Sobra Debbie, a sobrinha raptada pelos índios. O solitário caubói irá atrás dos assassinos a fim de fazer justiça e resgatar a menina. A caçada ao chefe Cicatriz e sua tribo dura anos e nela ficam apenas Ethan e o mestiço Martin (Jeffrey Hunter), que envelhecem, trocam farpas, mas não se dobram ao mundo. Apesar da câmera acompanhar simpaticamente o protagonista, ficam claras a selvageria e estupidez de Ethan, um racista rancoroso que despreza os índios e questiona, a horas tanta, se é melhor salvar ou matar Debbie, agora adolescente e já transformada numa comanche. Por meio do trajeto dos personagens na trama, John Ford oferece um grande painel sobre a tragédia da instalação dos brancos em território originariamente indígena. Se John Wayne é a grande força desse faroeste crepuscular, é John Ford quem dá a devida relevância estética a 'Rastros de Ódio'. Ou o casamento de ambos: o longa, por exemplo, não mostra nenhuma cena do brutal massacre perpetrado pelos índios, algo que será transmitido apenas pelo semblante de John Wayne/Ethan quando ele avista a casa arruinada, em chamas. Ou o primeiro e último planos, filmados de dentro de uma casa e com a porta emoldurando a natureza árida ao seu redor - e onde também está Ethan, personagem de um mundo selvagem, pré-civilizado. É a força da imagem primorosamente enquadrada por um esteta como John Ford, nesta obra que não conta com heróis e vilões, mas homens lutando pela sobrevivência". Segundo Vlademir Lazo do Cineplayers, "'Rastros de Ódio' é um dos maiores tratados sobre um dos aspectos mais discutíveis da formação norte-americana, o racismo, observado no filme de Ford como a verdadeira tragédia do país, causa e efeito de quase todas as guerras e conflitos entre etnias e costumes diferentes, que resultam na busca pelo sangue, na intolerância, no ódio". Clássico, obrigatório, obra-prima.