9.3.11

"Janela da Alma" - João Jardim e Walter Carvalho (Brasil, 2002)

Sinopse: Documentário no qual dezenove pessoas com diferentes graus de deficiência visual, da miopia discreta à cegueira total, falam como se veem, como veem os outros e como percebem o mundo. Eles fazem revelações pessoais sobre vários aspectos relativos à visão como o funcionamento fisiológico do olho, o uso de óculos e suas implicações sobre a personalidade, o significado de ver ou não ver em um mundo saturado de imagens. Dentre os entrevistados estão o escritor e Premio Nobel, José Saramago; o músico Hermeto Pascoal; o cineasta Wim Wenders, o fotógrafo cego Evgen Bavcar, a atriz Marieta Severo e o vereador cego Arnaldo Godoy.
Comentário: Segundo Mario Sergio Conti da Folha de S.Paulo, "o filósofo José Arthur Giannotti disse certa vez que os cientistas sociais brasileiros não deveriam se restringir a pensar temas nacionais. Para ele, pesquisar e escrever sobre, digamos, os alfaiates do Piauí não é necessariamente sinal de nacionalismo. A dedicação exclusiva a assuntos brasileiros pode ser indício de colonialismo: as grandes questões ficariam por conta de pensadores dos países dominantes, enquanto os periféricos se conformariam em lidar com coisas pequenas. 'Janela da Alma', de João Jardim e Walter Carvalho, é um documentário que segue o postulado de Giannotti. Ele enfrenta um tema abstrato, a visão, sem os travos do subdesenvolvimento. Os diretores pensam grande já no título, que alude à frase de Leonardo da Vinci: o olho é a janela da alma, o espelho do mundo. Eles entrevistaram artistas, intelectuais e pessoas ditas comuns da Europa e do Brasil. Recorreram à filosofia, à medicina, à biologia, à música e à literatura para investigar o que é a visão. O resultado é um filme que enriquece a visão que se tem da visão. Os 19 entrevistados, com graus de acuidade visual que vão da miopia à cegueira, discorrem sobre ver, não ver e ver de maneira única, intransferível. (...) A tese central, a de que a visão é construção cultural, e não um dado da natureza, é exposta por meio de nuanças. 'Janela da Alma' está longe, contudo, de ser um filme de tese. Ele é uma expressão pessoal. João Jardim (diretor de documentários como 'Terra Brasil' e 'Free Tibet') e Walter Carvalho (diretor de fotografia de 'Abril Despedaçado') são duas toupeiras míopes: o primeiro usa óculos de 8 graus; Carvalho, 7,5. Eles veem pouco, mas enxergam muito: 'Janela da Alma' é um filme luminoso".