19.3.11

"Caro Diário" - Nanni Moretti (Itália/França, 1993)

Sinopse: Misto de aventura e documentário autobiográfico no qual o diretor e personagem principal, Nanni Moretti, viaja em sua lambreta por cidades da Itália enquanto uma coceira infernal o conduz de médico em médico.
Comentário: Segundo Luisa Marques, do site Contracampo, "perfeitamente compreensível e até esperado que em um diário haja tantas idiossincrasias. É preciso coragem em um cineasta para que a escritura de seu próprio diário seja, de forma confessional, seu próprio filme? Ainda: é preciso coragem em um cineasta para, em sua obra, expor tanto suas idiossincrasias e seu processo criativo? Eu diria que sim, entretanto uma coragem que não se encerra nela mesma; advém de sentimentos muito genuínos de um homem apaixonado e instigado pela vida. As vivências cotidianas de Nanni Moretti, personagem cineasta/homem (no sentido de indivíduo, pessoa humana), nos revelam suas paixões, afetos e desafetos. Essas experiências e os sentimentos e as opiniões que as acompanham são simples, comuns e despretensiosas a ponto de serem notas em um diário de papel ou, que não haja espanto, a ponto de serem motivos para um filme. Porque, para Moretti, não é necessária a pompa de um grandioso fato histórico para que exista um argumento, uma ideia para um filme. Não é preciso fazer um épico grandiloquente, como o diretor bem defende em cenas de 'O Crocodilo', seu último filme. Não é preciso tantas tralhas (caravelas!), traquitanas. (...) Os títulos de cada parte em que 'Caro Diário' se divide tratam, de alguma forma, de uma noção do individual, do particular, como um diário também o faz. Aqui, contudo, não se trata de uma narrativa intimista: Moretti pode ser egocêntrico, mas isto não o faz ensimesmado. Seu jeito idiossincrático, peculiar, é, na verdade, um jeito que poderia ser de qualquer um; nós o notamos em Moretti simplesmente porque ele se expõe. Ele se expõe porque não tem medo, porque uma coragem enorme infla seu peito e o faz realizar filmes. Essa coragem vem de desejos e de um grande senso de humanidade. É preciso apaixonar-se diante da vida, das coisas mais sérias às mais bobas. E mesmo as mais sérias das coisas, que sejam leves, descontraídas".