7.4.24

“Os Delinquentes” - Rodrigo Moreno (Argentina/Brasil/Chile/Luxemburgo, 2023)

Sinopse:
Morán (Daniel Elías) é bancário e anseia largar a vida monótona que leva planejando nunca mais precisar trabalhar de novo. Ele encontra a solução perfeita: roubar uma enorme quantia em dinheiro do cofre do banco em que trabalha. Porém, para que o plano funcione, Morán oferece uma parte do dinheiro ao seu colega, Román, que deve escondê-lo enquanto o outro confessa o crime e passa um breve período na cadeia. Entretanto, o plano começa a sair do combinado quando Román conhece uma mulher que transforma a sua vida para sempre.
Comentário: Rodrigo Moreno nasceu em Buenos Aires, em 1972. Realizador e argumentista, é frequentemente associado ao Novo Cinema Argentino que emergiu nos anos noventa. Estudou realização na Universidade do Cinema, Buenos Aires, onde também leciona desde 1996. Em 2006, realizou “O Guardião”, seu primeiro longa-metragem solo e, em 2011, lançou “Um Mundo Misterioso”, que foi selecionado para competir no Festival de Berlim. “Os Delinquentes” (2023) é o primeiro filme que vejo dele.
Bruno Botelho dos Santos do site Adoro Cinema nos conta que “’Os Delinquentes’ começa como um filme de assalto, mas logo transita por diferentes gêneros, se tornando mais existencial. O tema principal da produção é sobre liberdade, discutindo e criticando nossas relações com o trabalho na sociedade capitalista”.
Santos entrevistou o diretor Rodrigo Moreno. Na entrevista o diretor declarou “que a ideia era justamente trazer um filme questionador”, daqueles que servem para “fazer perguntas ao público”. O diretor teria dito que estamos vivendo num mundo cheio de ódio e de violência e que, depois da pandemia do covid, o mundo teria ficado ainda pior. Segundo Moreno, “o mundo está ficando mais sombrio”, referindo-se às guerras e aos líderes políticos com discursos extremistas. Outra questão abordada no filme é esse “capitalismo extremo”, que faz com que o trabalhador destine sua vida toda para trabalhar. As empresas no mundo estão aumentando suas fortunas e, as pessoas, aumentando sua pobreza.
A história foi inspirada livremente no filme policial argentino "Apenas Um Delinquente” de 1949. Segundo a Agencia France-Presse, “Embora no filme original de 1949, o protagonista sonhe em se tornar milionário com o fruto de seu roubo, em ‘Os Delinquentes’, Moreno decide que ‘seus’ ladrões cometerão um ‘pequeno roubo’, apenas o necessário para não precisar trabalhar mais e viver dignamente”.
O que disse a crítica: Marcelo Müller do site Papo de Cinema avaliou com o equivalente à 2 estrelas, ou seja, achou fraco. Escreveu: “Atualmente, são incomuns os filmes com três (ou mais) horas de duração nas telonas. Isso porque a metragem extensa restringe a quantidade de sessões diárias nas salas de cinema e, consequentemente, compromete a exploração comercial da obra. (...) ‘Os Delinquentes’ tem ao todo 189 minutos, mas infelizmente essa liberdade bem-vinda é utilizada de modo pouco efetivo pelo cineasta Rodrigo Moreno, [inflando] a trama com divagações e reiterações que não acrescentam muito à experiência”.
João Garção Borges do Magazine HD, ao contrário, gostou muito, avaliou com o equivalente a 4 estrelas. Disse: a trama “pode ser encarada como o filme ideal para desenhar um primeiro e incisivo esboço sobre a esperança e a falta dela num país recentemente assombrado por um ato eleitoral sui generis que colocou no poder um alucinado que se autodefine como anarco-capitalista”. Segundo ele, “Todos os valores de produção estão presentes, sobretudo fotografia, som (com especial incidência na criação dos ambientes e do chamado espaço sonoro), música, realização, montagem, direção de atores e naturalmente os atores em si, onde se destacam Daniel Elías e Esteban Bigliardi”. Para Borges é um filme em busca de uma Argentina perdida.
O que eu achei: O filme começa bem. A premissa é, no mínimo, curiosa, mostrando um bancário entediado que faz as contas e percebe que ele precisará trabalhar mais uns 20 anos para poder se aposentar. O cofre do banco está cheio de dinheiro e ele acaba percebendo que, se ele roubar um bom volume daquelas notas e se entregar à polícia, ele vai ser sentenciado a seis anos de prisão, saindo em três anos e meio por bom comportamento. Então ele decide que vale a pena arriscar. Para isso ele precisa de um cúmplice que guarde o dinheiro por esse período. Tudo isso é mostrado na primeira hora do filme que tem, no total, 3h10m aproximadamente. Entretanto, após os primeiros 60 minutos, a coisa começa a desandar. Como disse o crítico Marcelo Müller do site Papo de Cinema, o diretor Rodrigo Moreno infla a trama com divagações e reiterações que não acrescentam muito à experiência, tornando o ritmo arrastado. Fazer um filme com 3h10m de duração, penso eu, implica uma certa responsabilidade para um diretor e deve valer cada minuto que o espectador estiver sentado naquela cadeira. Mas não é isso que ocorre. Poderia ser um filme mais enxuto que seria menos enfadonho e chegaria no mesmo lugar. Resumindo, ele começa bem e acaba mal. Bem mediano.