4.3.24

“Milagre em Milão” – Vittorio De Sica (Itália, 1951)

Sinopse:
Uma mulher (Emma Gramatica) adota um bebê abandonado em sua horta. Depois de sua morte, o garoto (Gianni Branduani) é enviado para o orfanato. Ao completar 18 anos, Totò (Francesco Golisano) vai para Milão, onde passa a morar num terreno ocupado por miseráveis, mudando a vida de todos com sua bondade.
Comentário: Vittorio De Sica (1901-1974) foi um dos mais importantes diretores e atores do cinema italiano. O site Wikipédia nos conta que como ator ele estreou em 1932, no filme “Dois Corações Felizes”. Como diretor sua estreia foi em 1939, com o filme “Rosas Escarlates”. Em 42 anos de carreira ele recebeu quatro prêmios Oscar de Melhor Filme Estrangeiro: em 1948 por “Vítimas da Tormenta”, em 1950 por “Ladrões de Bicicletas”, em 1965 por “Ontem, Hoje e Amanhã”, e em 1972 por “O Jardim dos Finzi-Contini”. Vi dele a obra-prima “Ladrões de Bicicletas” (1948) e o ótimo “Humberto D” (1952).
Segundo Nuno Gonçalves do site À Pala de Walsh, “’Milagre em Milão’ é o sexto encontro de De Sica e Cesare Zavattini, parceria artística que começou em ‘A Culpa dos Pais’ (1943). O binômio De Sica – Zavattini é um dos melhores exemplos de simbiose entre realizador e argumentista que marcam a história do cinema. Baseado no romance ‘Totò Il Buono’ de Zavattini, o filme de De Sica, em tom de fábula, começa com uma obra dos céus: Totò, um bebé milagrosamente nascido entre as couves do quintal da velha senhora Lolotta. Um anjo, um santo, mais tarde dirão. Após a morte da mãe adotiva, Totò é levado para um orfanato, onde no momento seguinte, como se de um truque de magia se tratasse, vemo-lo sair já como um jovem adulto. O seu único pertence, uma pequena bolsa, é roubada, mas ele acaba por travar amizade com o ladrão que em gesto de agradecimento a Totò por este lhe presentear de volta o objeto do furto ao qual se afeiçoou, cede o seu minúsculo aposento de latão para passarem a noite e se abrigarem do frio. Este pequeno acidente encaminha Totò até à sua futura comunidade (...)”.
Gonçalves diz que “’Milagre em Milão’ vive de uma certa aura onírica. (...) [Há] elementos que conferem ao filme um laivo de sonho, mas é também uma pista para o apelo maior de De Sica ao convidar cada um de nós para participarmos desse sonho e, também nós, projetarmos no filme os nossos próprios desejos”.
O filme foi premiado com a Palma de Ouro em Cannes e como Melhor Filme Estrangeiro pelos críticos de Nova York.
O que disse a crítica: Rubens Ewald Filho no Especial para o UOL Cinema avaliou o filme com 4 estrelas, ou seja, ótimo. Escreveu: “Desde as primeiras cenas já parece que é uma fábula, com ‘era uma vez’ e tudo. (...) É curioso como De Sica, um diretor neorrealista, envereda aqui pela fantasia, buscando num milagre uma solução para os problemas sociais. Há pouco diálogo, atores amadores, momentos de pura poesia, talvez um pouco chaplinianos (como no começo, quando os pobres se unem todos em busca, literalmente, de um lugar ao sol de inverno). Na segunda parte, se torna ainda mais delirante, sem perder, porém, seu charme e encanto. Um belo e encantador filme, um sonho proletário”.
Pedro Roma do site Plano Crítico avaliou com 5 estrelas, ou seja, obra-prima. Disse: “Lembrado por sua sequência final, em que a classe operária chega ao paraíso da maneira mais lúdica possível (...) essa que é uma das obras-primas do diretor não foi ovacionada em Cannes somente por uma sequência ou duas. De estrutura impecável, roteiro primoroso e atuações muito carismáticas não há como evitar um sorriso ao vê-lo, sem se deixar cair para o lado panfletário, exagerado ou mesmo bobo é um filme que há mais de 50 anos vale a pena ser revisto”.
O que eu achei: Não espere nada do nível de “Ladrões de Bicicletas” (1948) ou “Humberto D” (1952). Este é um filme daqueles bem ingênuos, onde a bondade do protagonista Totò prevalece trazendo ao enredo um tom de fábula. Há muita criatividade e cenas divertidas, com montagens fantasiosas - que hoje em dia seriam produzidas facilmente com o auxílio da informática - feitas, em 1951, da forma mais rudimentar possível. O roteiro, assinado por seu habitual colaborador Cesare Zavattini, procura balancear as sequências de ameaça social com a típica e leve comédia italiana. É um filme para rir das próprias desgraças. Pode reunir a família na sala, crianças e idosos, que todos irão se divertir.