19.2.24

“Rebecca, a Mulher Inesquecível” - Alfred Hitchcock (EUA, 1940)

Sinopse:
Uma jovem de origem humilde (Joan Fontaine) se casa com o nobre inglês Max de Winter (Laurence Olivier) que ainda vive atormentado por lembranças de sua falecida esposa. Após o casamento e já morando na mansão do marido, ela descobre surpreendentes segredos sobre o passado dele.
Comentário: Trata-se de mais um filme do mestre do suspense Alfred Hitchcock de quem já assisti 33 filmes. Este, “Rebecca, a Mulher Inesquecível” (1940) é baseado no clássico romance homônimo “Rebecca” de Daphne Du Maurier. É considerado o primeiro filme americano do Hitchcock.
O filme, protagonizado por Laurence Olivier e Joan Fontaine, conta a história de uma tímida jovem que após um romance de duas semanas em Monte Carlo se casa com Maximilian de Winter, um rico viúvo. No entanto, o que era para ser uma história de amor, logo se transforma em uma trama gótica quando a nova senhora de Winter chega em Manderley, a casa de campo da família, e descobre que a presença da falecida esposa ainda “assombra” o lugar.
João Bénard da Costa da Foco Revista de Cinema nos conta que “em relação ao livro há uma modificação sintomática a assinalar. No romance de Du Maurier, Max de Winter tinha efetivamente assassinado a primeira mulher. Os códigos vigentes, à época, no cinema americano, não permitiam, contudo, que o herói fosse um assassino e, ainda por cima, um assassino impune. Daí a transformação do crime em acidente, aliás pouco crível, como Max reconhece na sua confissão à segunda Mrs. de Winter (“Quem me acreditará?”). Só que a concessão, neste caso, parece ter vindo enriquecer a obra, pois lhe introduziu outra ambiguidade e o tema permanente de Hitchcock: é mais culpado o autor do ato ou quem, interiormente, o desejou? Mais uma vez, esta é, entre outras coisas, uma história de um falso culpado ou de um falso inocente”.
Ao total, “Rebecca” recebeu 11 indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator, Melhor Atriz e Melhor Roteiro. Além de Melhor Filme, a produção também levou o Oscar de Melhor Fotografia em P&B. A escolha de filmar o longa em preto e branco foi, inclusive, uma sugestão do próprio diretor, que desejava manter a atmosfera sombria do livro.
Como sabemos, o diretor ficou famoso por fazer aparições surpresas em seus filmes. Então atenção à sua rápida aparição quase ao final do filme, ao fundo da cena logo após o personagem Jack Favell ter feito uma ligação em uma cabine telefônica.
Em tempo, uma curiosidade que li no Jornal O Estado de SP sobre a obra literária na qual o filme foi baseado: “’Rebecca’, o sucesso de Daphne du Maurier, seria plágio de um romance da escritora brasileira Carolina Nabuco (1890-1981). ‘A Sucessora’, de 1934, conta uma história muito parecida. Marina, uma jovem simples, casa-se com o viúvo Roberto Steen e muda-se para a mansão dele, no Rio de Janeiro, onde é assombrada pela memória de Alice, a primeira mulher de Roberto. O livro virou novela na Globo em 1978, quando a hipótese do plágio voltou à tona. À época com 88 anos, Carolina, filha de Joaquim Nabuco, disse ter sido contatada por um advogado norte-americano. Esse lhe propôs uma boa quantia para que a escritora brasileira assinasse um documento dizendo que as semelhanças dos dois livros seriam apenas ‘coincidências’. Carolina recusou a oferta”.
O que disse a crítica: Matheus Bonez do site Papo de Cinema achou excelente. Escreveu: “Muito mais do que uma pretensa trama fantasmagórica ou um suspense familiar, Hitchcock nos brinda com um jogo de investigação sobre as aparências e o que está escondido nas entranhas de um núcleo familiar. Além disso, como era de seu costume, o diretor brinca com os clichês da futilidade do high society, a ineficiência da polícia (mesmo que de forma branda) e o charme e inteligência de seus vilões. ‘Rebecca, A Mulher Inesquecível’ pode não ser inesquecível para alguns, mas é um trabalho muito acima da média e que serviu para consagrar o nome de Alfred Hitchcock em Hollywood. Mais do que merecidamente”.
Diogo Rodrigues Manassés do site Cinema com Rapadura avaliou com 5 estrelas. Disse: “Previsibilidade causava ojeriza a Alfred Hitchcock. Sua habilidade em elaborar uma atmosfera de mistério era tão notória que lhe garantiu o (merecido) título de ‘mestre do suspense’. Tendo por base um script perspicaz, seu primeiro filme nos EUA constitui uma obra-prima (dentre as várias da sua filmografia). O esmero na direção não apenas resulta em cenas marcantes como também confirma a sua genialidade: do uso dos planos-detalhes (...) à mise-en-scène aplicada em cada cenário (...); das minúcias explicitadas (...) às simbologias discretas (...); do prólogo impactante ao grand finale”.
O que eu achei: Que pérola este filme de Hitchcock! Interessante como o gosto por filmar transparece em cada tomada. Este levou o Oscar de Melhor Filme e Melhor Fotografia. O P&B é de cair o queixo mesmo! Que capricho! O fato de ser o primeiro filme dele feito nos EUA mostra como ele se adaptou bem ao novo estúdio e à nova equipe e como soube usufruir bem da verba que lhe foi destinada. Interessante como a Rebecca, que dá título ao filme, está em praticamente toda a trama sem, em nenhum momento, termos sua presença física em cena. O resultado final é excelente! Li que, em 2020, o diretor Ben Wheatley resolveu fazer um remake da obra. Bruno de Oliveira do site Cinematizando assistiu e declarou: “O primeiro erro na minha opinião sobre [o remake] é [o diretor] querer gravar repetindo praticamente todas as cenas do original. Isso o torna só uma cópia atual do que vimos anteriormente. As mudanças criadas pelo roteiro só enrolam e não trazem nada de realmente novo. Criativamente falando ele não serve para nada. Mesmo que coloquem a desculpa de que é preciso fazer algo novo para os jovens verem, é indiscutivelmente preferível que vejam o original. O novo não tem a metade do charme de sua versão anterior”. Nenhuma dessas palavras me espantam. Um remake de “Rebbeca” é o mesmo que uma refação da Monalisa de Da Vinci. Pra quê gastar energia, tempo e dinheiro refazendo uma obra como essa? Um conselho, que aliás vale para a maioria dos remakes: economize seu tempo e veja apenas o original.