14.2.24

“Ascensor para o Cadafalso” - Louis Malle (França, 1958)

Sinopse:
Florence (Jeanne Moreau) e Julien (Maurice Ronet) decidem matar Simon (Jean Wall), o marido de Florence. O crime deve parecer suicídio. Como é tarde, o vigia corta a eletricidade e Julien fica preso no elevador. Enquanto isso, dois jovens roubam o carro de Julien.
Comentário: Louis Malle (1932-1995) foi um renomado diretor de cinema francês que dirigiu em torno de 21 filmes, sendo parte deles produzido na França e parte nos EUA. “Ascensor para o Cadafalso” (1958) é o primeiro filme de ficção dele. Anteriormente ele havia dirigido apenas um documentário - “O Mundo do Silêncio” (1956) - com o qual ganhou a Palma de Ouro em Cannes.
“Ascensor para o Cadafalso” conta a história da enigmática Florence Carala. Casada com o milionário Simon Carala, mas apaixonada por outro, Florence decide matar o marido com a ajuda do amante Julien Tavernier. Tavernier é um ex-militar que trabalha como espião na Indochina para o marido de Florence. Planejado para parecer um suicídio, as coisas começam a dar errado quando Tavernier decide buscar uma corda no terraço e fica preso no elevador (o "ascensor" do título).
Carlos Adriano da Folha SP nos conta tratar-se de “um filme pré-nouvelle vague, por razões de época, técnica e temática. A nova onda foi um movimento histórico do cinema francês, lançado em 1958 e 1959, que propôs ruptura estética e modos de produção livres do esquema de estúdio, colado existencialmente à vida e encapsulado numa ‘política dos autores’. Assistente de Bresson em ‘Um Condenado à Morte Escapou’ (1956), Malle se integra ao movimento com ‘Os Amantes’ (1958) e ‘Trinta Anos Esta Noite’ (1963). O diretor não pertencia ao grupo de ácidos críticos dos ‘Cahiers du Cinéma’, futuros cineastas. Sem o espírito revolucionário de Godard, Rohmer e Resnais ou o ímpeto sistemático de Truffaut, Chabrol e Rivette, Malle brilha no artesanato diligente e talentoso (não à toa, fez em Hollywood ‘Atlantic City’ e ‘Pretty Baby’, respectivamente em 1980 e 1978). (...) Baseado em um clássico da literatura barata (Noel Calef), ‘Ascensor para o Cadafalso’ é um drama policial de erros e ironias, cujas peças favorecem a fabricação da mentira. E há ainda a reflexão sobre o quanto as imagens podem revelar. Chabrol e Truffaut moldariam depois o gênero noir (de extração americana) na modernidade francesa”.
Na trilha sonora temos ninguém menos que o jazzista Miles Davis. Outro destaque fica por conta da atriz e cantora francesa Jeanne Moreau que faleceu aos 89 anos tendo participado de mais de 100 filmes, inclusive um brasileiro chamado “Joanna Francesa” de Cacá Diegues.
O que disse a crítica: Marcelo Müller do site Papo de Cinema avaliou com 4 estrelas, ou seja, ótimo. Escreveu: “’Ascensor para o Cadafalso’ é um filme marcado pelo perambular aturdido dos personagens, por essa sensação intermitente de desolação que acomete a todos. Ao som de Miles Davis é montado um quebra-cabeça em que cada nova peça deixa ainda mais claro o abismo para o qual a maioria caminha. A engenhosidade do trabalho de Louis Malle está em criar e, acima de tudo, sustentar uma atmosfera de angústia dominante, que abate os protagonistas com a força dos imperativos. Jeanne Moreau é a que mais carrega no semblante esse martírio, demonstrando desamparo em meio ao transe que a faz mirar apenas a intenção de localizar o cúmplice amado no balcão de algum bar. Os equívocos se multiplicam durante a trama, reforçando por recorrência a fragilidade do controle que consideramos possuir cotidianamente, bem como da realidade, assim bem menos soberana e óbvia”.
Cecilia Barroso do site Cenas de Cinema gostou ainda mais, avaliou com 4,5 estrelas. Disse: “Mesmo que menos considerado do que deveria, ‘Ascensor para o Cadafalso’ marcou o cinema mundial e mostrou como era possível fazer um cinema tenso sem utilizar métodos indutivos e manipuladores e, ao mesmo tempo, aprofundar-se na condição humana. Há no filme suspense, renovação e uma liberdade que andavam fazendo falta para a arte daquela época. Um filmaço que merece ser conhecido por todos”.
O que eu achei: “Ascensor para o Cadafalso” é um filme cheio de acidentes. Ele se baseia num livro de autoria de Noel Calef no qual o amante de uma mulher rica planeja matar o marido dela tendo ela como cúmplice, mas ele acaba cometendo um erro patético e, por conta desse erro, acaba preso em um elevador. Enquanto ele está preso acontecem inúmeros imprevistos que vão embaralhando toda a história que caberá à polícia desembaraçar. É um filme dos anos 50, é P&B, tem uma pegada noir pré nouvelle vague com um anti-herói e uma femme fatalle como protagonistas. Disponível gratuitamente no site do SESC Digital, o filme é uma boa oportunidade de conhecer o trabalho de Malle (há outros filmes dele atualmente na plataforma), ver a famosa atriz francesa Jeanne Moreau em ação e, acima de tudo, usufruir da excelente trilha sonora composta pelo incrível Miles Davies que dá todo o tom do filme.