18.3.24

“Através de um Espelho” – Ingmar Bergman (Suécia, 1961)

Sinopse:
Karin (Harriet Andersson), seu esposo Martin (Max von Sydow), seu pai David (Gunnar Björnstrand) e seu irmão Minus (Lars Passgård) estão em uma ilha. Eles comemoram o retorno da jovem após ser liberada de um tratamento no hospital - ela sofre de esquizofrenia - e também o fato de David retornar da Suíça, após isolar-se para escrever seu novo livro.
Comentário: Ingmar Bergman é um diretor de cinema sueco famoso pela abordagem psicológica que ele dá a seus filmes. Já assisti dele 17 filmes, mas sua produção engloba em torno de uns sessenta.
Rubens Ewald Filho do site UOL Cinema nos conta que “apesar de ter ganho o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (por sinal, pelo segundo ano consecutivo) [este filme] ficou inédito nos cinemas brasileiros, esta que é uma das obras-primas do genial diretor sueco, primeira parte de um trilogia que foi chamada de ‘O Silêncio de Deus’ [alguns chamam de Trilogia do Silêncio]. Com apenas quatro atores (quase um filme de câmara, como um quarteto de cordas e a música que se usa é de Bach), um único lugar (uma ilha na costa sueca), ele faz uma meditação profunda sobre o sentido da existência humana. Sempre usando a perfeita fotografia de Sven Snykvist, exemplar em enquadramentos e uso da luz, ele nos envolve aos poucos no drama daquela mulher que, desesperada, busca refúgio no irmão (com quem tem um encontro [quase] incestuoso) e nos pequenos ruídos, que a levam até um sótão onde por trás da porta de um armário pensa encontrar Deus (ou seria uma aranha que a devora? Ou será que sabe de algo que os normais desconhecem?). O filme coloca a figura paterna do escritor (que pode ser ruim, mas é bem sucedido) também como de um homem frio e até cruel (que pensa em observar a filha e anotar os detalhes da doença para depois usar num livro), mas que pode fornecer a chave para encontrar aquele Deus a que todos buscam com tanto fervor: é o Amor, seria sua resposta. (Ele diz: ‘Deus existe no amor, qualquer tipo de amor, talvez Deus seja amor’). Sem fazer sermões, ou ser escandaloso, vemos quatro personagens desesperados em busca de uma resposta, vivendo na trágica ilusão humana de que se não existe Deus, é preciso criá-lo. Nada disso porém é óbvio, conforme o estilo sintético mas profundo do diretor. (...) O título deriva de uma passagem da Bíblia (Atos do Apóstolos aos Corinthios, XII 12) e foi rodado na ilha de Faro”.
O que disse a crítica: Demetrius Cesar do site Cineplayers avaliou com 4 estrelas, ou seja, excelente. Escreveu: “Entre embates verbais ríspidos, planos de tirar o fôlego e uma sobriedade de direção que fizeram o nome de Bergman figurar como um dos maiores do cinema, a trama segue seca, precisa e áspera. O diretor arranca, como de hábito, fenomenais interpretações dos atores. É um filme assustador, que fica na memória e causa enorme desconforto mesmo muito tempo depois de ser visto. Enfim, simplesmente essencial”.
Robledo Milani do site Papo de Cinema avaliou com 4 estrelas e meia. Disse: “Após ganhar seu primeiro Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1961 por ‘A Fonte da Donzela’ (1960), Ingmar Bergman bisou a vitória no ano seguinte com ‘Através de um Espelho’, derrotando concorrentes da Dinamarca, Espanha, México e Japão. Com meros e enxutos 90 minutos de duração, este impressionante estudo sobre a demência, as relações familiares e o ímpeto artístico como fuga da realidade é importante dentro da obra do cineasta também por ser o primeiro capítulo daquela que ficou conhecida como ‘Trilogia do Silêncio’, composta ainda pelos extraordinários ‘Luz de Inverno’ (1963) e ‘O Silêncio’ (1963), filmes que ficaram marcados pelo intenso olhar proporcionado sobre a crise de fé do homem moderno. Um capítulo arrebatador não apenas da cinematografia sueca, mas também na própria história cultural da humanidade”.
O que eu achei: Eu gostei. Não é do nível de obras como "Morangos Silvestres" (1957), "O Sétimo Selo" (1957), "Persona" (1966), "O Ovo da Serpente" (1977) ou “Sonata de Outono” (1978) - todas verdadeiras obras-primas -, mas é um bom trabalho, com estupendas interpretações, em especial da protagonista Harriet Andersson que encarna uma esquizofrênica. Não é um filme leve, longe disso, mas ele entrelaça com maestria religião, psicologia e psicanálise. O título do filme - “Através de Um Espelho” - faz referência a uma passagem bíblica do Capítulo 13 de I Coríntios, que diz algo como “Agora vemos através de um espelho e de maneira confusa, mas depois veremos face a face“, ou seja, ele se refere especificamente à Deus que a personagem de Karin acredita ter visto em determinado momento da trama. Dizem que Bergman era ateu, mas nesse filme ele deixa transparecer que talvez Deus seja um sentimento chamado amor.