24.9.14

"Madadayo" - Akira Kurosawa (Japão, 1993)

Sinopse: 1943. O professor Hyakken Uchida (Tatsuo Matsumura) resolve deixar de lecionar para poder se dedicar ao ofício de escritor. O professor é uma lenda vida entre alunos e ex-alunos, pelo seu espírito brincalhão e alegre, e constantemente recebe visitas de seus antigos pupilos. Ele e sua esposa (Kyôko Kogawa) alugam uma bela casa, mas logo ela é destruída em virtude dos ataques aéreos que o Japão sofre na Segunda Guerra Mundial. A partir de então eles se mudam para um barraco, onde vivia o jardineiro de uma mansão próxima. É quando seus ex-alunos, decididos a impedir que o professor continue com uma vida de miséria, decidem se unir para bancar a construção de uma nova casa para ele. Além disto passam a comemorar anualmente o aniversário do professor, reunindo amigos dele e ex-alunos para uma grande confraternização.
Comentário: Segundo Eduardo Valente do site Contracampo, "é impressionante voltar os olhos para os três últimos filmes de Akira Kurosawa sob o signo desta palavra: 'últimos'. Porque, olhados em retrospecto, após o falecimento do cineasta em 1998, impressiona ver como os temas da velhice e da morte perpassam estes três trabalhos ('Yume', 1990, 'Hachi-gatsu no kyôshikyoku', 1991 e 'Madadayo', 1993) têm a força de um autêntico epitáfio artístico escrito em vida. Não se tratam, no entanto, de filmes de tons escuros sobre a vida a partir da morte, de forma alguma (mesmo vindo de um cineasta que no início dos anos 70 chegou a tentar o suicídio). Quase o oposto disso: em todos os três há um personagem idoso que reafirma constantemente seu apego à vida e à beleza dos pequenos rituais cotidianos, para além da sabedoria sobre a proximidade do fim. 'Madadayo' é mais obviamente sobre isso, como seu título mesmo já indica: trata-se de uma expressão que significa "ainda não!", resposta que o protagonista do filme (um professor que se aposenta nos primeiros planos do filme) dá para os convidados de suas festas de aniversário todos os anos, quando repetem a pergunta (num pequeno jogo ritualístico) se ele já estaria pronto para partir. 'Madadayo' pode ser lido como um libelo pelo apego à vida mesmo nos seus momentos finais, o que não pode ser tema mais próprio ao último filme de um cineasta idoso. Comparar a figura do professor, constantemente cercado por seus alunos que o idolatram, com a persona de Kurosawa, chega a ser quase banal de tão óbvio - mas não menos adequado por isso."