23.9.14

"Era Uma Vez em Tóquio" - Yasujiro Ozu (Japão, 1953)

Sinopse: Um casal de idosos (Chishu Ryu e Chieko Higashiyama) deixa sua filha no campo para visitar os outros filhos em Tóquio, cidade que eles nunca tinham ido. Porém os filhos os recebem com indiferença, e estão sempre muito atarefados para terem tempo para os pais. Apenas a nora (Setsuko Hara) deles, que perdeu o marido na guerra, parece dar atenção aos dois. Quando a mãe fica doente, os filhos vão visitá-la junto com a nora, e complexos sentimentos são revelados.
Comentário: Segundo Luiz Zanin do Estadão, "Bem, a primeira coisa a dizer é que Ozu parece filmar com o próprio material de que é feita a vida. O cotidiano. O dia a dia pequeno de todos nós, os fatos que vão sendo trançados e parecem só ter importância para nós mesmos, ou, talvez, para nossa pequena família, essa instituição misteriosa a cada vez que a olhamos de perto. Outra das vertentes que podem ser abertas pelo trabalho de Ozu é justamente a questão: o que é uma família? (...) Esse filme não trata de mero comentário social, embora o contenha. Não discute a bondade material, mas a possibilidade do bem em meio ao caos. Fala da relação entre as pessoas vivas, mas também entre elas e seus mortos. E dissolve-se numa cena final magnífica, que olha para a eternidade. Dessa meditação emerge a serena emoção que experimentamos ao longo do seu percurso, cujo desfecho se assemelha a uma revelação que dificilmente pode ser descrita em palavras. Aliás, no túmulo de Yasujiro Ozu não há sequer o seu nome. Apenas o ideograma “Mu”, que significa o nada, ou o vazio. Ninguém que tenha visto este filme negará à arte a capacidade de nos tornar um pouco melhores do que somos". Um clássico.