4.5.24

“A Sociedade da Neve” - Juan Antonio Bayona (Espanha, 2023)

Sinopse:
Reconstituição do caso que ocorreu em 1972, quando o voo 571 da Força Aérea Uruguaia, fretado para levar uma equipe de rúgbi ao Chile, cai em uma geleira no coração dos Andes. Apenas 29 de seus 45 passageiros sobrevivem ao acidente. Presos em um dos ambientes mais inacessíveis e hostis no planeta, eles são obrigados a recorrer a medidas extremas para se manterem vivos para, ao final, retornarem para casa apenas 16 pessoas.
Comentário: Juan Antonio Bayona (1975) é um cineasta espanhol responsável pela direção de comerciais de tv, videoclipes, curtas e filmes de ficção. Assisti dele o excelente “O Orfanato” (2007).
Dalton Sanches do site Café História nos conta que o filme foi baseado “no livro homônimo de Pablo Vierci – [que] tem como referencial o trágico acidente aéreo que vitimou 45 passageiros a bordo de um avião fretado das Forças Armadas Uruguaias, que levava, de Montevidéu, um time de rúgbi para jogar em Santiago, no Chile, em outubro de 1972. Ao se chocar e cair no Vale das Lágrimas, ponto inacessível da Cordilheira dos Andes e pertencente às fronteiras argentinas, o evento ficou conhecido como ‘A Tragédia dos Andes’ ou, de outra perspectiva, ‘O Milagre dos Andes’, no qual mais da metade desse número de tripulantes não resistiu às condições inóspitas e hostis à vida humana e sucumbiu às mortes as mais terríveis, sobrevivendo, ao fim, apenas dezesseis. Será sobre esse grupo que a película centrará fogo, ao longo de boa parte das suas 2 horas e 24 minutos, a fim de conduzir a quem assiste às mais agoniantes e desesperadoras ações e estratégias para enfrentar os dilemas e as penúrias impostas pela carência do mínimo e básico recurso necessário à sobrevivência num ambiente totalmente adverso. (...) A certa altura do estágio de privação total, os corpos mortos e congelados – logo, conservados da deterioração – dos companheiros, após longos debates, hesitações e forte resistência da parte de alguns (...) passaram a servir de alimento aos que ali lutavam instintivamente pela preservação de suas já combalidas vidas. Mas, para além das questões de ordem moral e religiosa em torno do canibalismo – eram, aliás, majoritariamente católicos apostólicos romanos –, e ao contrário do antecessor e apelativo filme ‘Vivos’ (EUA, 1993), que enfatiza tal aspecto em sua mais explícita visceralidade, Bayona teve a perspicácia de evitar a produção de cenas escancaradas dos corpos sendo cortados para suprir tal dilacerante carência”.
Bruno Bucis nos conta que, em entrevista ao site Metrópoles, Juan Antonio Bayona declarou que, “antes da estreia do filme [ele] o exibiu para 15 dos sobreviventes. ‘Ao mostrar sem maquiagem a crueza das condições em que eles viviam, a gente conseguiu fazer com que todos os pontos de vista fossem mais compreendidos’, conta”. Segundo Bayona o local onde aconteceu o acidente “é um lugar muito difícil de acessar e também perigoso” mas, segundo ele, “estar lá o ajudou muito a entender o quanto foi realmente épico, o tamanho do que eles fizeram”.
O filme foi indicado ao Globo de Ouro como Melhor Filme Estrangeiro, ao Prêmio Bafta por Melhor Filme de Língua Não Inglesa e ao Oscar de Melhor Filme Internacional e deverá ganhar um documentário.
O que disse a crítica: Teté Ribeiro da Folha SP avaliou com 3 estrelas, ou seja, bom. Disse: “Há filmes, livros, documentários e inúmeras reportagens sobre o caso. Recentemente, a série americana ‘Yellowjackets’ (...) fez uma adaptação da história, com um time de futebol feminino e americano no lugar do time de rúgbi uruguaio. O que torna este longa-metragem de agora, produzido pela Netflix (...) especial são as cenas de ação realistas e espetaculares, além da tensão mantida por todos os longos 144 minutos de duração. Não é para os de estômago fraco, fica o aviso”.
Letícia Alassë do site Cine Pop avaliou com 4 estrelas, ou seja, ótimo. Escreveu: “Com uma ambientação por vezes inquietante, por vezes claustrofóbica, J. A. Bayona tem êxito em nos aglutinar àquela realidade e desespero sem recorrer a cenas explícitas, mas desenvolvendo muito bem as condições miseráveis daqueles indivíduos. (...) ‘A Sociedade da Neve’ é um filme de resiliência, fé e admiração. Todos os personagens são tratados com a mesma relevância e respeito, além dos bravos Roberto Canessa (Matías Recalt) e Nando Parrado (Agustín Pardella) que partem ao desconhecido com uma única missão: sobreviver. Mesmo (...) aqueles que já conhecem cada detalhe dos fatos, conseguirão se surpreender com a produção”.
O que eu achei: Por tratar-se da reconstituição de um caso real envolvendo um acidente aéreo que pretendia levar um time de rúgbi uruguaio junto com seus convidados até o Chile, o que temos pela frente é o chamado “cinema catástrofe” com direito à fortes emoções. O filme mostra o que ocorreu durante os 71 dias em que os 29 sobreviventes iniciais tentaram fazer de tudo para se manter vivos. O que comer? Como se abrigar do frio? Como evitar a hipotermia? Como tratar dos feridos? Como pedir resgate? Quem já esteve na Cordilheira dos Andes pode imaginar o desafio. Eles são pequenos pontos pretos naquela imensidão branca. As buscas até ocorrem, mas é como procurar agulhas em um palheiro. Os efeitos especiais são muito bem feitos, a produção de fato surpreende positivamente, o diretor foge dos clichês e evita apontar culpados. Há boas soluções inclusive para abordar o tema do canibalismo. Ao final, como já é sabido, sobram apenas 16 sobreviventes. É bastante emocionante ver um deles deixando o local carregando uma mala recheada de cartas, bilhetes e pertences dos outros que não conseguiram chegar lá. É um filme correto, que contou com vastos recursos financeiros, mas que se atém obviamente aos fatos sem haver muito espaço para grandes inventividades. Não é meu gênero de filme preferido, mas para quem tiver interesse em conhecer essa história, vale a pena encarar.