Comentário: Segundo Marcos Pinho na Revista Época, "Kaurismäki realiza uma comédia em tom de fábula sobre a identidade. (...) Para evitar confusões vale explicar que há dois Kaurismäkis no cinema finlandês, e são irmãos: Mika, que mora no Brasil e fez 'Absolutamente Los Angeles', e Aki, realizador de títulos como 'Os Cowboys de Leningrado vão para a América'. Ambos fazem comédias insólitas com humor bem próprio. Aki, porém, é mais bem-sucedido no exterior, onde ganhou projeção após o êxito de 'Ariel'. O personagem central de 'O Homem Sem Passado', que concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro, é um metalúrgico (o ótimo Markku Peltola) que é espancado ao desembarcar em Helsinque. Vai parar no hospital, onde é dado como morto. Mas ressuscita e ganha abrigo de um casal de miseráveis que mora num contêiner. Sem memória devido ao incidente, ele decide começar vida nova. Encontra até um amor na figura de uma voluntária do Exército da Salvação (Katti Outinen, premiada em Cannes). Como não tem nome, o homem sem passado se vê impedido de abrir conta bancária e ter um emprego. Kaurismäki critica a sociedade, cujas regras só servem para quem está nela inserida. Mas trata o assunto de forma brilhante, com uma narrativa inusitada e minimalista feita de silêncios e gestos, numa fita que pode ser definida como um cruzamento entre Jim Jarmusch e David Lynch. Um belo e estranho filme".
