3.10.17

"A Fronteira da Alvorada" - Philippe Garrel (França, 2008)

Sinopse: Carole (Laura Smet) é uma atriz casada, cujo marido (Eric Rulliat) vive nos Estados Unidos. Ela mantém um caso com o fotógrafo François (Louis Garrel). Quando o marido dela retorna, François evita se encontrar com Carole novamente. Tempos depois ele conhece Ève (Clémentine Poidatz), que lhe permite uma vida tranquila e estável, mas a imagem de Carole volta e meia retorna para atormentá-lo.
Comentário: Segundo Paulo Santos Lima do site Cinética, "Se a fotografia valoriza o instante e o quadro, o cinema adverte que esse registro é limitado, pois é um mero recorte do tempo e do espaço. E no mundo, as coisas não estão posando: elas vivem, transformam-se, trapaceiam, vagam, são anjas e demônias, nascem e morrem, estão aos borbulhos. Falado isso, não é fato irrelevante, portanto, que 'A Fronteira da Alvorada' tenha como protagonista um fotógrafo que tenta, como tal, controlar as imagens que registra, aprisionar os objetos capturados por sua câmera, mas esbarra no fato dessas coisas serem do mundo, que por sua vez está em moto selvagem, digladiando-se consigo próprio, vomitando suas agonias e transmutando-se ad eternum, como uma fera lutando pela vida. (...) Garrel filma nos anos 2000, e seu cinema está, portanto, devidamente contaminado pelo nosso tempo, este da crise dos paradigmas. Seu filme grita, usa desesperadamente pedaços perdidos no meio do caminho da história do cinema (história do Homem, portanto), consegue transparecer à tela a agonia do cinema em nosso tempo, debatendo-se entre o natural ao sobrenatural das imagens para lançar algumas questões cruciais. A mais interessante é defesa da imagem transitória, que passeia e se debate com o mundo, que passa muito além de nosso campo de visão, que preserva infinitas ambiguidades, vai a planícies de luz e desfiladeiros de sombras, céu aberto e noite enevoada. É mais um filme feito em momento de agonia e crise do que uma obra desesperada".