4.10.15

"Segredos da Tribo" - José Padilha (Reino Unido/Brasil, 2009)

Sinopse: Este documentário relata os primeiros estudos feitos por antropólogos com os índios ianomâmis, na parte venezuelana da Floresta Amazônica. Em 1960, estes pesquisadores teriam sido responsáveis por uma série de abusos sexuais, assassinatos e violações médicas com a população indígena.
Comentário: Segundo Cleber Eduardo, do site Cinética, "há filmes sobre o mal e há filmes do mal. 'Segredos da Tribo' é uma coisa e outra. Um documentário mau, para falar às claras. O mal é denunciado por uma elite de antropólogos, e detectado nessa mesma elite por esses mesmos antropólogos (franceses e americanos). Uns atacam os procedimentos de outros na convivência com índios ianomâmis na parte venezuelana da Amazônia. Há acusações de pedofilia hetero e homo, de usos de índios como cobaias e de manipulação dos dados levantados. Cientistas são jogados na latrina, a antropologia é demonizada e os índios fazem papel de vítimas. Não importa tanto se um deles fala com pragmatismo e rastros de complexidade sobre os efeitos positivos e os benefícios materiais da presença de pesquisadores na aldeia. Importa apenas para o documentário que, quando entre ianomâmis, os antropólogos encarnam o Mal. Por expor o lado funesto, nefasto e perverso de cientistas específicos, por meio de fragmentos sucessivos de entrevistas dos próprios (como em um programa de TV de quinta linha), 'Segredos da Tribo' coloca-se como juiz do Bem. É o mal. E não há nenhum reducionismo nessa definição. Porque o mal reside na privação da inteligibilidade e na decisão de jogar a razão na privada. (...) Documentário, como o cinema, a arte, o amor e a vida, é questão de 'como'. E o método empregado por José Padilha, diretor de filmes esforçados em ver o mal em tudo e o bem apenas em suas ações cinematográficas ('Ônibus 174', 'Tropa de Elite', 'Garapa'), é o do orgasmo diante do mau odor. Desde o primeiro plano, de um índio atacando os antropólogos, a seta nos indica: vejam como a pureza dos índios foi corrompida pelos homens do conhecimento. Como todos se atacam, ninguém presta e, quando falam de suas pesquisas, não há crédito possível, nenhuma verdadeira polêmica viável, porque ninguém vale nada. Essa defesa da pureza, no lugar de um questionamento crítico sobre a antropologia participativa e dialógica, alimenta o esvaziamento do conhecimento e do pensamento para fazer o elogio do dedo em riste. Procura apenas a ênfase, o espetáculo do mal, a guerra de vaidades. Não se trata de blindar os antropólogos de uma crítica contundente; nem de interditar ataques no documentário. Se os denunciados merecem a denúncia, 'Segredos da Tribo' coloca-se abaixo deles. Na fossa. E por lá pode ficar."