31.3.17

"Personal Che" - Adriana Mariño & Douglas Duarte (Brasil/EUA/Colômbia, 2007)

Sinopse: Muitos filmes têm procurado revelar a verdade por trás do mito Che Guevara, mas este documentário faz o oposto: ele explora o mito por trás da verdade. Gravado em quatro continentes, o filme conta com relatos de diferentes pessoas que o descrevem como santo milagreiro, ídolo neonazista, produto, herói e terrorista, entre outras facetas.
Comentário: Segundo Julio Bezerra da Revista Cinética, "A maioria dos filmes sobre Che Guevara investe em uma exploração sobre a verdade por trás do mito do guerrilheiro argentino. 'Personal Che' tenta o inverso. O gancho do documentário do brasileiro Douglas Duarte e da colombiana Adriana Mariño – que, aliás, se conheceram em um fórum de documentaristas na internet – é buscar o mito que se impõe sobre a verdade. Difícil encontrar um personagem mais propício a este movimento do que o revolucionário argentino, uma das lideranças da revolução cubana, executado em plena guerrilha na Bolívia, em 1967. Imortalizado pelas fotos de Alberto Korda e difundido por uma linguagem mitológica e espetacular, a figura de Che Guevara se abriu ao longo dos anos a uma enorme e confusa variedade de apropriações e parece cada vez mais longe dos fatos. Trata-se de uma figura demasiadamente contemporânea. Um mito da sociedade do espetáculo. (...) Em sete histórias que se entrelaçam, vemos Che virar santo milagreiro na Bolívia, um herói em Cuba, um ídolo para neonazistas alemães, o tema de uma ópera-rock no Líbano, a inspiração de um político rebelde em Hong Kong, um produto para alguns, terrorista para outros". Entretanto, segundo ele, "O documentário é um campo marcado por muitas discussões de ordem ética. (...) Deixemos claro, que o problema não é o que se pode e o que não se pode dizer ou fazer em um documentário. A reflexão ética, por seu conteúdo instável e complexo, não pode ser integralmente generalizada em mandamentos e varia de acordo com o tempo, com o filme, com o cineasta, e com a qualidade das relações que se estabelecem entre o cineasta e cada um de seus personagens. Em atividades como o documentário, as exigências éticas ou a exigência de exercício ético não se medem única e exclusivamente pelo cumprimento de certos códigos estabelecidos. Mas o documentário é certamente um gênero que se define por suas obrigações para dentro. Como disse certa vez João Moreira Salles, 'Não é o que se pode fazer com o mundo. É o que não se pode fazer com o personagem'".