19.3.17

"A Ronda Noturna" - Peter Greenaway (Alemanha, 2007)

Sinopse: O ano 1642 marca uma virada na vida do famoso pintor holandês Rembrandt (Martin Freeman), que perde o seu estatuto de respeitada celebridade e se transforma num pobre desacreditado. Perante a insistência da sua mulher grávida, Saskia (Eva Birthistle), Rembrandt aceita pintar a Milícia dos Mosqueteiros de Amsterdam, num retrato de grupo que mais tarde ficará conhecido como "A Ronda Noturna". Rembrandt rapidamente se apercebe que há uma conspiração em marcha e através dessa pintura encomendada está disposto a desnudar os conspiradores, construindo a sua acusação sob a forma de um quadro que revela o lado hipócrita e negro da época de ouro da sociedade holandesa.
Comentário: Segundo Raphael Fonseca da RUA - Revista Universitária do Audiovisual, "Mais uma vez a formação e obsessão de Peter Greenaway pelo campo das artes plásticas (especificamente da pintura) é o que dá imagem, texto e contexto a uma obra cinematográfica de longa duração. Em 'A ronda noturna', como o título aponta, temos uma releitura/adaptação do retrato pintado em 1642 por Rembrandt van Rijn, em que representa um grupo de militares liderados pelo capitão Frans Cocq. Trata-se de uma ficção em torno do processo criativo do pintor, cercado pela cobrança e expectativa dos comanditários e por acontecimentos pungentes em sua vida particular, como o nascimento de seu filho Tito e o falecimento de Saskia, sua então esposa. A primeira imagem do filme é um detalhe de um dos olhos de Frans Cocq. Enquanto os créditos iniciais surgem na tela, várias outras partes dos corpos retratados são mostrados. O quadro em sua íntegra apenas surge para o espectador no final do filme. Greenaway, ao dar valor ao brilho deste olhar indica também sua intenção com o filme: trata-se de uma obra sobre a pintura e, mais do que isso, sobre o 'olhar para'. Do mesmo modo que o capitão olha para frente e parece estar em conversação, nós vemos o processo de construção desse olhar pintado. O segundo fragmento projetado endossa isto: a mão do mesmo capitão. Temos um resumo do próprio processo da tradição clássica da pintura: olhar e pintar, observar, recodificar mentalmente e partir para o processo artesanal". Apesar da confusão dada pelo grande número de personagens e das micronarrativas que compõem os bastidores da encomenda do quadro, o filme é ótimo.