2.5.16

"O Fotógrafo" - Jean Garrett (Brasil, 1980)

Sinopse: Dênis (Roberto Miranda) é um fotógrafo com grande talento para editoriais de moda e ensaios sensuais. Ele vive praticamente fechado em sua casa/estúdio, clicando (e muitas vezes seduzindo) beldades nuas, mas sonha sair deste enclausuramento (físico, profissional e moral) fotografando o que está do lado de fora da janela. Principalmente uma linda vizinha (Aldine Müller), por quem se encanta. Porém, quando finalmente se aproxima da vizinha, Dênis vê ameaçada sua autoconfiança, tanto de conquistador quanto de grande profissional. A moça, que estuda sociologia na USP, despeja sobre ele um punhado de conceitos e categorias marxistas, decretando que ele é um escravo da burguesia e que seu trabalho é algo banal e alienado.
Comentário: Segundo Leo Cunha da Revista Zingu!, "Jean Garrett terminou sua carreira cinematográfica em meados da década de 80, dirigindo filmes assumidamente pornôs, como 'Entra e sai' e 'Fuk Fuk à Brasileira', mas preferiu assiná-los como J. A. Nunes (seu sobrenome verdadeiro, por sinal). Poucos anos antes, porém, em filmes como 'O Fotógrafo', seu cinema estava mais para Walter Hugo Khouri do que para Tony Mel. 'O Fotógrafo' é um filme com ambições psicológicas e sociais, direção elegante, fotografia de cuidado artesanal. No que diz respeito ao apuro dos enquadramentos e da mise-en-scène em geral, os méritos cabem ao próprio Garrett, que, aliás, começou sua carreira como fotógrafo. No que se refere à trama, porém, o crédito deve ser compartilhado com Inácio Araújo, com quem assinou o roteiro. (...) É difícil não enxergar um aspecto metalinguístico nesta trama, se a cotejamos com a trajetória do próprio Garrett (e alguns colegas da Boca do Lixo), sujeitos ao dilema entre fazer arte 'culta', ou 'respeitável' e obras de apelo sensual, popular, comercial, etc. Por outro lado, o filme deixa transparecer uma ironia com relação ao discurso pronto e amarrado da estudante. Assim, 'O Fotógrafo' mantém uma ambiguidade, sem jamais cair no tom 'demonstrativo' (para usar um termo recorrente nas críticas cinematográficas de Inácio) ou no 'mensageirismo' – para tomar emprestado o termo usado pelo crítico (do veículo) rival, Luiz Carlos Merten". Então, o que dizer desse filme? Afinal, é pornografia ou é um filme autoral? Como disse Ruy Gardnier no site Contracampo: é "um filme psicológico, centrado na intimidade de um personagem, que se ampara na temática da sexualidade e na nudez de moças bonitas para conseguir acesso ao público". Resumindo: é um filme mais pessoal da carreira do diretor, mas vale, sem dúvida, para para conhecer melhor nosso cinema nacional.